Uma ação conjunta das polícias Militar e Civil do Pará terminou com dez pessoas mortas na fazenda Santa Lúcia, em Pau d'Arco (867 km ao sul de Belém), nesta quarta-feira (24).
Trata-se do episódio mais violento ligado à disputa agrária em 21 anos, desde o massacre de Eldorado do Carajás, cidade na mesma região. Na ocasião, PMs mataram 19 sem-terra ligados ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Os corpos dos nove homens e uma mulher foram levados pela polícia para o necrotério de Redenção (PA). A identidade dos mortos não havia sido divulgada até a publicação desta reportagem.
À imprensa local, a Secretaria Estadual de Segurança Pública do Pará afirmou que os policiais estavam cumprindo mandados de prisão de suspeitos de terem matado um segurança da fazenda Santa Lúcia, alvo de disputa agrária, no início deste mês.
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Armamento encontrado em local onde dez pessoas foram mortas, em Pau d'Arco (PA) |
Ainda de acordo com a versão oficial, eles foram recebidos à bala no local e reagiram. No acampamento, teriam sido apreendidas algumas armas de fogo. Não há informação de policiais feridos.
A Comissão Pastoral da Terra (CPT), no entanto, afirma que se tratou de uma ação de despejo que desrespeitou um acordo que havia desde Eldorado do Carajás.
"A polícia local fez o despejo, descumprindo determinação estadual pós Eldorado dos Carajás, que deve ser feito pela PM de fora", afirmou o padre Paulo César Moreira, coordenador nacional da CPT.
O novo massacre ocorre em meio a uma escalada de violência ligada a disputas agrárias no Pará. Ao menos 17 pessoas morreram nas últimas semanas no Estado por esse motivo, segundo a CPT.
Em um desses casos, a líder rural Kátia Martins, 43, foi morta a tiros no início do mês no acampamento 1º de Janeiro, a 130 km de Belém, no Pará. Ela era presidente da associação local havia cinco anos.
O Pará é o Estado com mais mortes no campo, de acordo com a CPT. De 2007 a 2016, foram 103 assassinatos. Cerca de dois terços dos casos ocorreu no sudeste do Pará, palco do massacre desta quarta.
Trata-se do segundo massacre no país envolvendo disputa de terras neste ano. Em 19 de abril, nove posseiros e trabalhadores rurais foram mortos a tiros e facadas em Colniza (MT). Um madeireiro da região foi acusado de ser o mandante do crime e está foragido.