Folha de S. Paulo


Análise

'Fora, Temer' ganha palco na Virada Cultural no fim de semana

Ueslei Marcelino/Reuters
Presidente Michel Temer (PMDB) deixa o Palácio Jaburu, nesta quinta-feira

Nascido pouco antes de o presidente assumir o cargo, o movimento "Fora, Temer" terá seu maior palco na Virada Cultural paulistana, no sábado (20) e domingo (21).

O evento já enfrentaria seu principal teste de fogo, ao cortar programação no centro e espalhar grandes palcos pela cidade. Resta saber agora se os protestos no fim de semana roubarão público ou se tomarão conta dos shows, como em 2016. Naquele ano, as manifestações anti-Temer foram amplificadas pelo quase-fim do Ministério da Cultura.

"O assunto está bem quente, deve tomar a Virada. Defendo em todas as minhas redes a saída de Temer", afirmou Tiê, que toca à 1h de domingo no Centro Cultural São Paulo.

Jaloo disse que não puxará coro em seu show às 13h do mesmo dia, no Copan. "Se gritarem, não vou mandar ninguém ficar quieto. Não sei se aderiria. As coisas acontecerão naturalmente. Está perigoso se posicionar politicamente."

As palavras de ordem contra o peemedebista, que atingiram o auge da popularidade nesta quarta (17) com a delação da JBS, ganharam terreno em um ano de governo. Uma análise das postagens da hashtag #foratemer em redes sociais nos últimos meses indica descentralização, capilaridade além das fronteiras, bom humor, diversidade ideológica e correlação com eventos culturais.

A queda de Temer é defendida por quem apoia Lula, Bolsonaro, Doria, novas eleições, intervenção militar, a volta da monarquia, anarquia, renovação integral da classe política ou gestão federal via enquetes on-line.

Há diariamente fotos de novas pichações, do Muro de Berlim aos trajetos habituais de manifestações políticas, como a avenida Paulista. O mais representativo é o conjunto de protestos contra o presidente em blocos carnavalescos, exposições e shows.

Interativa, a mostra de Yoko Ono em São Paulo tem "Fora, Temer" espalhado em todos os espaços nos quais o público pode escrever. O mesmo foi percebido na última Bienal e no mural da Pinacoteca.

Circulou há poucas semanas a informação de que uma cláusula contratual impediria que artistas escalados para a Virada Cultural fizessem manifestações políticas no evento. A pasta municipal da Cultura de São Paulo nega.

Há sim um item que atribui ao artista a responsabilidade jurídica por suas palavras. O temor de censura não é delírio persecutório. O Carnaval de Salvador prevê punição a protestos de artistas. Neste ano, o desfile do Baiana System se tornou alvo de controvérsia depois que o vocalista Russo Passapusso puxou um coro de "Fora, Temer".

A cláusula censora busca impedir que a folia vire palco de disputas políticas, disse o presidente do Conselho do Carnaval local, Pedro Costa. Houve quem defendesse penalidades à banda, mas a empreitada não foi adiante.


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