Folha de S. Paulo


Aécio Neves pediu R$ 2 milhões a Joesley, dizem executivos da JBS

Pedro Ladeira - 4.abr.2017/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 04-04-2017, 15h00: O senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente nacional do PSDB fala na tribuna do Senado se defendendo das acusações publicadas na revista Veja dessa semana, de que ele teria recebido propina em uma conta em nome de sua irmã em Nova York. Ele recebeu o apoio de vários senadores. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) na tribuna do Senado

Executivos do grupo J&F, proprietário da marca JBS, afirmam que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi gravado pedindo R$ 2 milhões a um dos donos da empresa, Joesley Batista, para pagar sua defesa na Operação Lava Jato.

A afirmação, divulgada pelo jornal "O Globo", foi confirmada pela Folha.

Em nota, o senador afirmou que sua relação com Joesley era "estritamente pessoal".

Segundo os executivos da JBS, a quantia foi entregue a um primo do tucano, em ação filmada pela PF.

A gravação que supostamente compromete o senador Aécio Neves tem 30 minutos e foi entregue à Procuradoria-Geral da República (PGR). Deve integrar acordo de delação premiada, que aguarda homologação do ministro do Supremo Edson Fachin

Os investigadores colocaram chips em um de quatro pacotes de cédulas que integravam os R$ 2 milhões supostamente pedidos pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) para pagar seu advogado, e seguiram as notas eletronicamente.

Como os chips emitem sinais, a PF conseguiu monitorar o caminho das malas de São Paulo até Belo Horizonte, onde as cédulas foram depositados em uma empresa do senador Zezé Perrela (PMDB-MG), aliado político e amigo de Aécio.

CAMINHO DO DINHEIRO

Segundo o jornal "O Globo", o encontro entre Joesley e Aécio aconteceu no dia 24 de março no Hotel Unique, em São Paulo.

O senador disse que quem faria sua defesa na Lava Jato seria Alberto Toron. O dinheiro, segundo a investigação da Polícia Federal, não chegou ao advogado.

Na conversa o tucano e o empresário combinam a entrega do dinheiro. Aécio afirmou que mandaria para receber a quantia alguém da sua confiança.

"Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação. Vai ser o Fred com um cara seu. Vamos combinar o Fred com um cara seu porque ele sai de lá e vai no cara. E você vai me dar uma ajuda do caralho", teria dito Aécio, segundo a delação.

Fred é o apelido de Frederico Pacheco de Medeiros, primo do senador e ex-diretor da Cemig. Ele foi um dos coordenadores da campanha presidencial do tucano, em 2014.

O diretor de relações institucionais da JBS, Ricardo Saud, foi quem levou o dinheiro destinado a Aécio, segundo Joesley. Foram quatro entregas de R$ 500 mil cada uma.

Na que foi filmada pela PF, Fred passa as malas para um secretário parlamentar do senador Perrella, chamado Mendherson Souza Lima, segundo a investigação.

Mendherson seguiu com a propina para Belo Horizonte, seguido por policiais federais. As investigações revelaram que o dinheiro foi parar na empresa Tapera Participações Empreendimentos Agropecuários, de Gustavo Perrella, filho de Zeze Perrella.

Na mira da JBS

AÇÃO CONTROLADA

O acompanhamento eletrônico das notas, filmagens e gravações fazem parte do que se costuma chamar de ação controlada, forma excepcional de investigação policial.

Esse tipo de ação ocorre quando um criminoso, réu ou mero suspeito aceita coletar provas para a polícia, com a supervisão direta, apoio tecnológico e eventual intervenção das autoridades policiais no processo.

A coleta de provas faz parte de um acordo de delação no qual o investigado terá benefícios, como um tempo menor de prisão ou mesmo a extinção da pena.

A ação controlada está prevista na nova lei de organização criminosa, a de número 12.850 de 2013. É a mesma lei que criou regras mais bem definidas para os acordos de delação premiada.

A ação controlada é pouco utilizada pela polícia porque há riscos óbvios para o investigado, há temor de que a prova seja anulada pela Justiça e exige um aparato tecnológico e um grau de conhecimento que, talvez, só a Polícia Federal tenha no Brasil.

É a primeira vez que a Operação Lava Jato recorre a esse tipo de ação para produzir provas.

Já ocorreram outras gravações, como as feitas pelo filho de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, e pelo ex-senador Delcídio do Amaral, mas não havia a participação da polícia que caracteriza o controle sobre a ação.

TEMER E CUNHA

Joesley também gravou o presidente Michel Temer em conversa na qual menciona ajuda ao ex-deputado Eduardo Cunha. Para a Procuradoria-Geral da República, o áudio indica aval do presidente à compra de silêncio do deputado.

Joesley, diz a reportagem, pagou para Cunha R$ 5 milhões para o ex-presidente da Câmara após a prisão dele, em outubro do ano passado.

A delação, diz "O Globo", também menciona o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega como contato com o PT.

Seria a primeira ocasião de uma ação da PF em busca de provas em flagrante dentro da Lava Jato.

Cunha já foi condenado em primeira instância na Lava Jato e, mesmo detido, encaminhou em processos em que é acusado perguntas a Temer a respeito de pagamentos em campanhas eleitorais.

Cronologia da delação da JBS

OUTRAS DELAÇÕES

Aécio Neves é citado também nas delações de Marcelo Odebrecht e nas dos executivos da construtora Benedicto Júnior, Claudio Melo Filho, Henrique Valladares e, Sérgio Luiz Neves

Na época da delação da Odebrecht, o senador afirmou em nota que considera importante o fim do sigilo sobre o conteúdo das delações. "Assim será possível desmascarar as mentiras e demonstrar a absoluta correção de sua conduta." Anteriormente o senador já havia dito que, ao fim das investigações, sua inocência ficará provada

Segundo Sérgio Luiz Neves, então diretor-superintendente da Construtora Norberto Odebrecht (CNO) em Minas, em 2007 ele organizou esquema para fraudar a licitação da Cidade Administrativa de Minas em troca de propina.

Alexandre Rezende - 24.jun.2016/Folhapress
BEO HORIZONTE, MG, BRASIL, 24-06-2016, 06:30h. Complexo arquitetônico da Cidade administrativa de Minas Gerais. O plano da Cidade Administrativa foi elaborado por Oscar Niemeyer, tendo as obras sido concluídas em fevereiro de 2010. A construção foi custeada pela Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais.(Alexandre Rezende/Folhapress PODER) *** EXCLUSIVO FOLHA *** ORG XMIT: Alexandre Rezende --- Prédio da Cidade Administrativa, sede do governo de Minas Gerais construída durante a gestão de Aécio Neves (PSDB)
Complexo arquitetônico da Cidade Administrativa de Minas Gerais, em Belo Horizonte

Só da Odebrecht, ele recebeu cerca de R$ 5,2 milhões pelo lote dois do empreendimento, conforme o delator.

Henrique Valladares, ex-responsável pela Odebrecht Energia, disse que, em 2008, ex-executivos da empresa pagaram vantagens indevidas para Aécio e o PSDB em troca de ajuda nos empreendimentos do Rio Madeira (as usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau). O total chegaria a R$ 50 milhões, R$ 30 milhões da Odebrecht e R$ 20 milhões da Andrade Gutierrez, sendo que a maioria dos pagamentos foi feita no exterior, conforme o delator.

O ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Júnior, o BJ, disse que acertou com Aécio, de 2009 a 2010, o pagamento de R$ 7,275 milhões via caixa dois para a candidatura de Antonio Anastasia (PSDB-MG) ao governo de Minas.

Na campanha de 2014, Aécio pediu contribuições para a campanha dele, de Anastasia e aliados no valor total de R$ 6 milhões, conforme relatou BJ.

Há outro inquérito sobre repasses feitos em 2014, todos para a campanha de Aécio à Presidência. Um dos acertos era o pagamento de R$ 6 milhões, dos quais Aécio recebeu R$ 3 milhões, segundo Sérgio Luiz Neves. Os delatores divergem sobre os valores que efetivamente foram pagos a Aécio, mas Marcelo Odebrecht afirmou que houve uma doação oficial para sua campanha à Presidência de cerca de R$ 5 milhões


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