Folha de S. Paulo


Ministério Público denuncia cinco por chacina em Colniza

Adriano Vizoni/Folhapress
COLNIZA - MT - BRASIL, 26-04-2017, 212h00: CHACINA EM TAQUARUCU DO NORTE. Casa de uma das vitimas da chacina que matou 9 pessoas. (Foto: Adriano Vizoni/Folhapress, ESPECIAIS)
Casa de uma das vitimas da chacina que matou 9 pessoas

O Ministério Público Estadual de Mato Grosso formalizou nesta segunda-feira (15) denúncia contra um madeireiro e outros quatro homens acusados de terem planejado e executado a chacina que matou posseiros e trabalhadores rurais em Colniza (MT).

Os cinco são acusados de formação de milícia privada conhecida como "encapuzados" e homicídio qualificado. A motivação do crime, cometido em 19 de abril, seria extrair madeira da área em disputa e em seguida apossá-la.

Apontado como mandante, Valdelir João de Souza, o "Polaco Marceneiro", é dono de duas madeireiras em Machadinho D'Oeste (RO), a cerca de 230 km de terra da agrovila Taquaruçu do Norte, região da chacina. Ele está foragido.

Souza tem uma área de manejo florestal vizinha à área tomada pelos posseiros, que ocupam cerca de 20 mil hectares divididos entre 120 famílias. Apenas uma área, de cerca de 3.600 hectares, seria do interesse do suposto mandante.

As duas empresas de Souza, Cedroarana, com sede em Machadinho, e G.A. Indústria, Comércio e Exportação de Madeiras, no distrito de Guariba, em Colniza, têm um longo histórico de problemas com o Ibama, segundo levantamento feito a pedido da Folha.

Desde 2007, foram aplicadas dez multas por irregularidades, num total de R$ 898,8 mil. Porém apenas a menor delas, de R$ 2.500, foi paga até agora.

Na lista do denunciados, aparece também o ex-PM de Rondônia Moisés Ferreira de Souza, que tem um mandado de prisão por suposta participação na morte de dois sem-terra em Cujubim (RO), em janeiro do ano passado. Ele também está foragido.

Até agora, apenas dois dos cinco acusados estão presos. Segundo a denúncia, o empresário conseguiu fugir em camionete de uma campana policial feita na sua casa, em 30 de abril.

A chacina de Colniza foi o episódio mais grave de violência no campo desde 1996, quando 19 sem-terra foram mortos no massacre de Eldorado do Carajás (PA).

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AS VÍTIMAS

Perfil dos mortos em Taquaruçu do Norte

Sebastião de Souza, 57
Pastor da Assembleia de Deus em Guatá, distrito de Colniza a cerca de 140 km de Taquaruçu do Norte. Era um dos posseiros da linha (picada) 15, alvo de disputa. Sua casa no local já havia sido incendiada em 2014. Foi encontrado com um facão enterrado na nuca

Fábio dos Santos, 37
Trabalhava principalmente como pedreiro. Foi contratado pelo pastor Sebastião de Souza para limpar o terreno -o dia de trabalho custa cerca de R$ 55 na região. Morava em uma vila próxima e não tinha terras. Evangelista da Assembleia de Deus, deixou quatro filhos

Ezequias de Oliveira, 26
Posseiro, tinha um lote fora da área em disputa e estava no local trabalhando como diarista. Fiel da Assembleia de Deus

Edison Antunes, 32
Outro posseiro que estava no local contratado como diarista. Era diácono da Assembleia de Deus. Tinha quatro filhos

Aldo Carlini, 50
Um dos que estavam no local trabalhando como diarista. Seu lote está fora da área em conflito

Samuel da Cunha, 23
Recém-chegado de Nova Brasilândia (RO), estava no local como diarista e também tinha lote fora da linha 15

Valmir do Nascimento, 55
Um dos três mortos que tinham lote na linha 15, área do assentamento em disputa. Foi encontrado com as mãos amarradas para trás. Tinha dois filhos

Izaul dos Santos, 50
Posseiro da linha 15, palco de disputa. Estava no local desde o ano passado, quando comprou cerca de 200 hectares por R$ 110 mil. Respondia a um processo por homicídio simples. O seu filho e a nora são dois dos quatro que estavam na área da chacina e conseguiram fugir

Francisco da Silva, 56
Também estava no local como diarista. Em agosto de 2015, foi multado em R$ 115 mil pelo Ibama por ter desmatado ilegalmente 22 hectares de floresta


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