Folha de S. Paulo


Lula quis afastar Graça Foster porque ela 'fechou a torneira', diz Santana

Delação João Santana - Vídeo 6

Em delação premiada, o marqueteiro João Santana relatou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva agiu para que Dilma Rousseff tirasse Graça Foster da presidência da Petrobras porque ela estava "fechando a torneira" para as construtoras que faziam obras da estatal.

Ele sugere que, à época, em 2014, não via relação entre as críticas de Lula e os pagamentos das construtoras para o PT, mas que "vendo de trás para diante" entende dessa maneira.

"Ele nunca deixava a entender que fechando essa torneira estava fechando forma de pagamento —mas de trás pra diante, entendo dessa maneira", afirmou o marqueteiro.

"Visto de trás para diante, pode parecer que tem algo a mais. Eu não posso dizer isso com convicção, mas que cria uma nuvem de significados que podem ser um pouco diferentes."

Ricardo Borges - 29.jan.15/Folhapress
Rio de Janeiro, RJ, BRASIL. 29 - 01v-2015;Coletiva da petrobras para detalhar o balanco da empresa. A presidente da estatal, Graca Foster, chegou atrasado e nao foi possivel responder a todas as perguntas devido ao tempo. (Foto: Ricardo Borges/Folhapress ) *** EXCLUSIVO FOLHA ***
A ex-presidente de Petrobras Graça Foster em coletiva de imprensa em 2015

Santana conta que, por partilhar da "intimidade estratégica", por vezes era usado para levar mensagens de Lula até Dilma, como nesse caso.

"Diga à presidenta Dilma que a Graça está atrasando sistematicamente o pagamento, e muitas empresas vão parar obras importantes porque não estão recebendo", disse Lula a Santana, segundo a versão do delator.

Ele diz ter repassado as críticas a Foster à então presidente, que "não fez nenhum comentário".

A DELAÇÃO DO CASAL - Acusações de João Santana e Mônica Moura ao Ministério Público Federal

"A presidenta muitas vezes, a algumas coisas ela reagia com simples muxoxo: 'Eu sei o que estou fazendo'. Nunca passava disso."

Segundo Santana, Lula se queixou de que as prestadoras de serviço estavam sem recursos e que isso poderia trazer danos à campanha de Dilma.

"Ele não citava quais as empresas que estão ameaçando parar. 'Vem uma fila enorme de empresários se queixar a mim —que não tem coragem ou não tem acesso a ela. Tem obras que vão comprometer, e parar essas obras significa dano de imagem muito grave a ela'", diz Santana.

Ele diz também que sua mulher Mônica Moura teve diálogos semelhantes com João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, que também se queixava de Graça Foster.

OUTRO LADO

Cristiano Zanin Martins e Valeska Teixeira Martins, advogados do ex-presidente, afirmaram, por meio de nota, que Lula "nunca tratou direta ou indiretamente do financiamento das campanhas eleitorais em que foi candidato ou apoiador" e que as afirmações de João Santana e Mônica Moura "são mentirosas".

"Hoje está muito claro que citar o nome de Lula tornou-se condição obrigatória para que réus e até condenados obtenham os favores na Promotoria no âmbito da Operação Lava Jato", diz trecho da nota.

Ainda conforme os advogados, nenhum dos delatores apresentou prova das menções feitas ao ex-presidente.

Colaborou MARCELO TOLEDO, de Ribeirão Preto


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