Folha de S. Paulo


Com Ciro, Haddad e Raduan Nassar, grupo lança manifesto Brasil Nação

O Brasil está em frangalhos, carente de uma visão nacional e, dividido, "se radicaliza, abrindo espaço para o ódio e o preconceito".

Como mudar esse cenário? É o que se propõe a responder o Projeto Brasil Nação, com um manifesto lançado nesta quinta (27), na Faculdade de Direito da USP.

Formulado sob liderança do economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, o texto tem entre os signatários Chico Buarque, Frei Betto, Wagner Moura, Laerte, Marcelo Rubens Paiva, Kleber Mendonça Filho e Rogério Cezar de Cerqueira de Leite (do Conselho Editorial da Folha).

Numa sala lotada da USP, passaram petistas como o ex-prefeito Fernando Haddad, o vereador Eduardo Suplicy, o senador Lindberg Farias e o líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini, e o pré-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT).

A coqueluche da plateia foi Raduan Nassar (autor do livro "Lavoura Arcaica"), que sem abrir a boca gerou comentários como "ai que fofo!" e "preciso de uma selfie com ele".

O escritor se juntou à mesa de discussão com Bresser-Pereira, Eleonora de Lucena (ex-editora-executiva da Folha), o jurista Fábio Konder Comparato e o embaixador Celso Amorim, entre outros.

Polvilharam o debate termos associados à esquerda, como "golpe" e "neoliberal 'hard'".

O manifesto é apartidário, "mas temos posição claramente contrária ao governo aí, que nasceu de um golpe", disse à Folha Bresser-Pereira antes do evento.

Mais do que um diagnóstico, o documento aponta um tratamento, afirma. "Não é meramente um grito, 'veja, estamos numa grande crise!'. Isso nós sabemos. Ele aponta saídas."

São os cinco pontos econômicos sugeridos no manifesto: regra fiscal que priorize educação e saúde, juros mais baixos, mais investimento público, reforma tributária com impostos progressivos e criação de superávit em transações correntes que estimule a economia.

Bresser-Pereira reconhece que "parte da burguesia, do empresariado, talvez tenha medo de se aproximar" da proposta, enquanto o apoio da elite "financeira e rentista" está fora de cogitação. "Eles são liberais."

Já no debate, afirmou que sua meta é encontrar alternativas às políticas "populistas de direita e também de esquerda". Segundo o economista, é preciso reconhecer: "Sofremos uma derrota com o governo Dilma". Saldo: a direita se fortaleceu.

A voz da soprano que cantou o "Hino Nacional" no início da noite contrastou com o tom colérico contra o atual governo. Ao longo da noite, citações a Michel Temer foram acompanhadas pelos adjetivos "golpista" e "traidor".

Ciro admitiu seu papel de "grilo falante" em tempos "de golpe". E é hora para tanto, disse. "Haverá tempo para buscar simpatias. Pretendo achar a ocasião para ter oportunidade de ser agradável."

O importante, agora, é combater a "tragédia socioeconômica que se abate sobre nosso povo" e apontar dedos aos "antagônicos" com "jeitão de quadrilheiros", disse o ex-ministro do governo Lula, que terminou sua fala aos gritos de "Ciro presidente" por parte do público.

Ele lembra que teve a orelha puxada por chamar de "ladrão" os peemedebistas Eduardo Cunha e Temer. "Na época, fui chamado de malcriado. Um deles hoje está preso, o outro, tachado de golpista."

Outro ex-ministro de Lula e também de Dilma, Celso Amorim disse que penou para explicar o impeachment contra a petista em 2016 –quando ele chefiava o Consulado do Brasil em Nova York. Saía-se com esta: "Imagine que [Donald] Trump tenha substituído [Barack] Obama –e sem uma eleição".

O discurso mais cândido, como de praxe, coube a Suplicy, que fez questão de agradecer aos autores do Brasil Nação: "Vocês incluíram a Renda Básica de Cidadania!", em referência à mais cara bandeira de sua carreira política. Desta vez foram dele os suspiros de "ai que fofo".


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