Folha de S. Paulo


Executivos dizem que reformaram tríplex para Lula a pedido de Pinheiro

Danilo Verpa/Folhapress
Empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, chega à sede da PF para depor na Operação Greenfield
Empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, chega à sede da PF para depor na Operação Greenfield

Executivos da OAS disseram ao juiz Sergio Moro nesta quarta-feira (26) que, a pedido do dono da empreiteira, Léo Pinheiro, reformaram o tríplex em Guarujá (SP) para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ex-arquiteto da empreiteira, Paulo Gordilho ainda disse que foi com Pinheiro à casa de Lula, em São Bernardo do Campo (na Grande São Paulo), para mostrar ao ex-presidente e à ex-primeira-dama Marisa Letícia o projeto de reforma do apartamento e da cozinha do sítio em Atibaia (SP).

"Ele [Pinheiro] pediu para o motorista me pegar num sábado e nós fomos até São Bernardo do Campo e explicamos os dois projetos –o sítio de Atibaia na realidade não foi nem um projeto, mas eram umas plantas decoradas, que até um leigo saberia ver", afirmou.

"E houve concordância do projeto?", perguntou Moro.

"Eu diria que houve, tanto que foi feito, mas eles não entenderam bem", respondeu Gordilho. E emendou: "Não podia também exigir que dona Marisa e o ex-presidente conheçam projetos de planta baixa e corte de um projeto de arquitetura", riu.

Gordilho afirma que pagou, em dinheiro, R$ 170 mil da empreiteira para a empresa Kitchens, especializada em obras de cozinhas, decorar o cômodo no sítio.

Segundo o arquiteto, desde 2011 "todo mundo na OAS" sabia que o tríplex em Guarujá estava reservado para o ex-presidente.

Ele disse que a planta do apartamento foi mostrada "com caneta laser" em uma reunião da diretoria da OAS Empreendimentos. Léo Pinheiro, conta, não explicava o porquê de ter feito as obras no tríplex e no sítio para Lula, só dizia que o ex-presidente era "amigo".

Também foi ouvido por Sergio Moro o ex-presidente da OAS Empreendimentos, Fábio Hori Yonamine, que organizou uma visita de Lula e Marisa ao edifício em Guarujá, em 2014.

Após a visita, o tríplex foi reformado e foi incluído um elevador privativo. Yonamine disse que o custo total da reforma foi de R$ 1,2 milhão, bancado pela empresa.

"Essa foi uma reforma totalmente atípica. Um pedido atípico e único pedido que doutor Léo me fez em relação a qualquer outra unidade", depôs.

Tanto Gordilho quanto Yonamine afirmaram que não tinham informações se o imóvel realmente pertencia a Lula.

Os dois são réus no processo que também acusa o ex-presidente Lula de ter recebido vantagens indevidas da empreiteira OAS. Léo Pinheiro, que também responde à ação, disse a Moro que o apartamento é de Lula.

A defesa do ex-presidente nega que o tríplex seja dele e afirma que a fala de Pinheiro é uma "versão negociada para agradar" procuradores e destravar seu acordo de delação premiada.

Lula é réu em três ações criminais no âmbito da Operação Lava Jato e irá depor a Moro, em Curitiba, no dia 10 de maio.

OUTRO LADO

O advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, disse em nota que a narrativa de Gordilho "ficou isolada e sem nenhuma evidência após ele reconhecer, em respostas a perguntas da defesa, que não tinha qualquer conhecimento ou atuação na área de vendas da empresa".

"A declaração também destoa não apenas das 73 testemunhas que o antecederam nos depoimentos sobre o caso triplex –entre eles funcionários da companhia–, mas também do que afirmou Fábio Yonamine, ex-presidente da mesma OAS Empreendimentos", afirmou a defesa.

"Subordinado a Léo Pinheiro, Yonamine foi categórico ao dizer que a área financeira da OAS Empreendimentos não tinha conhecimento de reserva de qualquer unidade para o ex-presidente", acrescentou.

O advogado ainda ressaltou que o pedido para a reforma do apartamento e a organização da visita foi feito por Léo Pinheiro.

"Quanto às melhorias feitas no sítio de Atibaia, de propriedade de Fernando Bittar, registra-se que o próprio Gordilho reconheceu ter estado com ele na propriedade e que era Bittar quem sempre tratou com a OAS sobre o imóvel", disse.


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