Folha de S. Paulo


PSDB estuda lançar David Uip ao governo de SP em 2018

Bruno Santos -15.jun.2016/Folhapress
São Paulo, SP, BRASIL-15-06-2016: TERCEIRO FÓRUM A SAÚDE DO BRASIL - Na foto, o Secretário Estadual de Saúde, David Uip, abre o segundo dia do Terceiro Fórum A Saúde do Brasil. (Foto: Bruno Santos/ Folhapress) *** ESPECIAIS *** EXCLUSIVO FOLHA***
O secretário estadual de Saúde, David Uip

Enquanto reagrupa suas forças após o impacto da delação da Odebrecht sobre a sigla, o PSDB de São Paulo estuda lançar o secretário estadual de Saúde, David Uip, para disputar o Palácio dos Bandeirantes em 2018.

"É o melhor nome. É um candidato preparado, que entende de saúde, um problema gravíssimo que enfrentamos", afirma o presidente estadual do partido, o também médico Pedro Tobias.

Segundo a Folha apurou, Uip surge em dois cenários. Caso o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), citado na delação como tendo recebido R$ 10,7 milhões em caixa dois em 2010 e 2014, esteja fora da sucessão presidencial, o partido hoje crê que o tucano ideal para disputar o Planalto será o prefeito paulistano, João Doria.

Nessa hipótese, Uip seria um nome adequado para a disputa. Apesar de laços estreitos com o PSDB, ele carrega uma certa aura antipolítica, que virou o ponto de venda predileto de todo o marketing político em tempos de Operação Lava Jato.

Assim como Doria, poderia emergir como um "outsider" apoiado no coração do sistema, mas não contaminado pelas práticas apuradas pela Lava Jato. A bandeira da saúde pública é outro ativo forte, já que o tema está sempre entre os mais sensíveis para o eleitorado.

Uma segunda possibilidade de disputa para Uip, considerada menos provável hoje, surge caso Alckmin sobreviva politicamente até o fim do ano e Doria resolva permanecer na prefeitura.

Uip afirmou, por meio de sua assessoria, que ignora a discussão sobre seu nome. "Estou preocupado em trabalhar pela saúde de São Paulo", disse, de resto em forma tipicamente antipolítica.

Em público, o PSDB paulista segue apoiando Alckmin à Presidência e vê Doria como um plano B pronto para uso. "Por enquanto, estamos 100% com o governador para a Presidência. Mas nesses tempos não sabemos nem como será a semana que vem, e a delação machucou o partido", diz Tobias, que é deputado estadual.

Ele ressalta que crê na "honestidade do governador, que não está em jogo".

A reação tucana à crise da Lava Jato, que até as delações da Odebrecht era mais fortemente associada ao PT e seus aliados na era Lula-Dilma, está sendo mais rápida em São Paulo, berço do partido, do que em nível nacional.

Três medalhões da sigla foram atingidos, dois mais fortemente: os senadores Aécio Neves (MG), que buscava ser presidenciável de novo, e José Serra (SP), que vinha sendo esteio da aliança entre o partido e o governo Michel Temer (PMDB).

Tanto o mineiro quanto o paulista estão trabalhando em suas defesas agora. Virtualmente fora de qualquer baralho presidencial, Aécio por enquanto especula concorrer ao Congresso.

O terceiro graúdo alvejado é Alckmin. Seu caso é considerado menos grave juridicamente que o dos colegas, mas há consenso de que a simples menção na delação e o fato de que um cunhado do governador foi acusado de receber dinheiro em seu nome podem abater suas chances em 2018.

Enquanto avalia os danos, o governador busca ordenar o discurso público em defesa de sua gestão e do PSDB em si. Como relatou o "Painel" desta Folha na semana passada, ele deu a tarefa à nova geração de prefeitos do partido no Estado, muitos deles com menos de 40 anos.

Despontam no cenário os titulares em Santos, São José dos Campos, Ribeirão Preto, Jundiaí e São Bernardo do Campo, entre outros.

E Alckmin tem um trunfo no prefeito paulistano. "Ele caiu no gosto da população. Acho o Doria uma solução para qualquer candidatura, ao governo do Estado ou à Presidência", afirma Tobias.

Mesmo que seja engolido pela criatura, ou criaturas no caso de seu secretário de Saúde entrar na disputa, Alckmin poderia sair candidato a senador ou deputado mantendo seu grupo no poder.

Se Doria estiver em algum páreo, o prefeito de São Paulo será Bruno Covas (PSDB), neto do paciente mais famoso e confidente do infectologista Uip: o governador Mário Covas (1930-2001), o padrinho político de Alckmin.

Assim, com novas caras mas antigas relações, o PSDB busca manter seu domínio de duas décadas sobre o Estado e tentar voltar ao Planalto.


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