Folha de S. Paulo


Cunha recebeu mesada de R$ 547 mil por três anos, diz delator da Odebrecht

Paulo Lisboa - 7.fev.17/Brazil Photo Press/Folhapress
CURITIBA, PR, 07.02.2017 - LAVA-JATO - O ex-presidente da Câmara e deputado cassado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso na operação Lava Jato, chega à Justiça Federal em Curitiba (PR), para prestar depoimento ao juiz Federal Sérgio Moro na tarde desta terça-feira (07). (Foto: Paulo Lisboa/Brazil Photo Press/Folhapress) *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
O ex-deputado Eduardo Cunha ao se deslocar para prestar depoimento ao juiz Sergio Moro

O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) recebeu mesada de R$ 547 mil por três anos, segundo um dos delatores da Odebrecht.

Benedicto Júnior afirmou em seu depoimento que o ex-deputado recebeu um total de R$ 19,7 milhões entre setembro de 2011 e agosto de 2014.

O valor, segundo ele, é referente às obras de revitalização e manutenção do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro, executadas por um consórcio formado pela Odebrecht, OAS e Carioca Engenharia.

"Entre agosto e setembro de 2011, fui pessoalmente procurado por Eduardo Cunha e, a título de campanhas futuras, ele me pediu que fizesse pagamento da ordem de 1,5% do valor liberado para o projeto em 36 parcelas", afirmou Júnior.

As parcelas, segundo Júnior, foram operacionalizadas pelo Setor de Operação Estruturadas, que controlava os repasses ilícitos da Odebrecht, e pagas por meio do doleiro Álvaro José Novis.

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Júnior relatou que ele e os líderes das outras duas empresas -Léo Pinheiro, da OAS, e Ricardo Pernambuco, da Carioca- se reuniram e decidiram fazer os pagamentos a Cunha separadamente. Cada construtora repassaria 1,5% do valor referente à sua participação na obra.

O projeto, no total de R$ 3,5 bilhões, foi financiado pelo FI-FGTS, fundo gerido pela Caixa Econômica Federal.

Meses antes, um aliado de Cunha, Fábio Cleto, se tornara vice-presidente da Caixa, compondo o conselho de investimentos do fundo.

Em 2011, segundo o delator, as obras já estavam aprovadas e a verba, liberada. Apenas em 2014, quando foi necessário um novo aporte do FI-FGTS para o Porto Maravilha, a articulação com Cunha se fez necessária, conforme Júnior. Cleto havia pedido vistas na análise do caso, atrasando o pagamento.

Júnior, então, entrou em contato com Léo Pinheiro, da OAS, que pediu a Cunha que intercedesse. Dias depois, ainda de acordo com o delator, Cleto se manifestou a favor da aprovação do novo aporte de R$ 1,5 bilhão.

"Aceitei fazer os pagamentos pois entendia que poderiam influenciar o voto do vice-presidente da Caixa e membro do Comitê de Investimentos do FI-FGTS no Porto Maravilha [Fábio Cleto]", afirma Júnior.

"Porque o deputado Eduardo Cunha é uma pessoa relativamente importante no cenário e porque ele tinha uma pessoa dentro do conselho [do FI-FGTS] que ele tinha colocado lá meses antes. Eu não queria ter problemas nesse assunto", disse o delator.

CARANGUEJO

Eduardo Cunha, que tinha o codinome "caranguejo" nas planilhas da Odebrecht, teve seu mandato cassado e está preso em Curitiba desde outubro passado.

Ele é réu em ação penal que tramita na 10ª Vara Federal de Brasília e investiga o pagamento de propina pela liberação de recursos do FI-FGTS a construtoras. A Procuradoria-Geral da República acusa Cunha de receber R$ 52 milhões ilegalmente pelo Porto Maravilha.

Em delação premiada, dois sócios da Carioca Engenharia já haviam afirmado que Cunha recebera propina das empresas envolvidas na obra do Porto Maravilha. Cleto, também em acordo de colaboração, confirmou que o ex-deputado recebeu pagamentos em troca de liberar recursos do fundo.

OUTRO LADO

A defesa de Eduardo Cunha negou as informações relatadas por Júnior.


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