Folha de S. Paulo


Líder guarani kaiowá faz protesto em Londres para marcar Dia do Índio

Leão Serva/Folhapress
Ladio Veron e apoiadores em protesto na Embaixada Brasileira em Londres, esperam para ser recebidos por diplomata do Brasil
Ládio Veron e apoiadores em protesto na Embaixada Brasileira em Londres

O Dia do Índio vai começar mais cedo na embaixada do Brasil em Londres, com o protesto, marcado para as 9h30 (hora local, 5h30 no Brasil), contra as mudanças na legislação referente aos direitos das populações tradicionais e o atraso no reconhecimento de terras indígenas pelo atual governo.

O protesto é liderado pelo índio Ládio Veron, 50, guarani kaiowá de Dourados (MS), e deverá contar com a presença de apoiadores locais convocados pela entidade Survival International.

Veron vai entregar uma carta ao governo brasileiro protestando contra a violação dos direitos indígenas; o genocídio de seu povo guarani; e contra o avanço do agronegócio sobre as terras reivindicadas pelos índios, provocando desmatamentos e tornando mais difícil o reconhecimento das áreas como patrimônio dos grupos tribais.

Veron vem a Londres depois de visitar a Espanha, a Grécia e a Itália, sempre levando a mensagem sobre os ataques sofridos pelos guaranis do Mato Grosso do Sul.

No Reino Unido, visita ainda outras cidades antes de voltar para casa.

Aos 50 anos, ele é filho de Marcos Veron, líder indígena que foi morto em 2003 pouco depois de realizar uma viagem em busca de apoio no exterior, com apoio da mesma Survival International.

No atentado em que o pai foi morto, Ladio foi sequestrado junto com a mulher e o filho.

Veron conta que os guaranis reivindicam o reconhecimento de 88 áreas indígenas no Estado.

Delas, 46 estão parcialmente ocupadas pelos índios desde 2013-14; 16 estão homologadas pela Funai, faltando apenas um decreto presidencial para estabelecer a terra indígena.

Mas o processo está parado há vários anos.

Enquanto isso, o governo federal e o congresso avançam medidas como a PEC 215, que altera o rito de reconhecimento de terras indígenas, tira atribuição do Executivo e passam ao Legislativo papel de decisão sobre o assunto.

"Eles pararam os processos porque querem que o Congresso aprove a PEC e anule todas as decisões já tomadas", diz Verón.

A terra de 96 hectares que ele ocupa há 16 anos com mais 250 famílias, Taquara, em Dourados, está homologada desde 2005, com uma área total de 9.700 hectares.

Mas o processo não avança. "Poucos dias atrás um grupo de soldados foi retirar a comunidade da Taquara. Mas nós revertemos a situação na Justiça."

Para o líder indígena, o governo Michel Temer "não quer saber do índio, só dos ruralistas", tornando-se o ápice de um processo que "piora com cada governo".

Mesmo o presidente Lula, que "pensávamos que seria um bom presidente para os índios, parece que tirou a camisa do PT. Fez promessas grandes e não cumpriu em oito anos de presidente". "Dilma, da mesma forma, prometeu e não entregou. E o Temer é pior ainda".

Veron entregará a embaixada uma carta sua e outra da Survival International, ambas endereçadas ao governo brasileiro (o protocolo prevê que cartas desse tipo entregues em embaixadas devem ser enviadas a Brasília).

Ele volta ao Brasil para participar dos protestos chamados " Abril Indígena", entre os dias 24 e 28 de abril.


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