Folha de S. Paulo


Marcelo Odebrecht diz que Pimentel foi usado para alertar Dilma de caixa 2

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Marcelo Odebrecht fala sobre dinheiro para Temer, Skaf e Duda Mendonça
Marcelo Odebrecht presta depoimento a investigadores da Operação Lava Jato

O ex-presidente e herdeiro do grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, disse em um dos depoimentos de sua delação que usou o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), para alertar a então presidente, Dilma Rousseff, no final de 2014, de que sua campanha estava "contaminada" por doações ilegais.

"Na minha ida a Salvador no final do ano [2014] eu parei lá [em Belo Horizonte] e aí entreguei para ele aquela planilha onde tinha alguns valores que foram depositados para [o marqueteiro] João Santana, que não necessariamente era do Brasil, mas que era para ele alertar ela", relatou Marcelo.

O empresário, preso pela Operação Lava Jato, disse que procurou Pimentel por ver nele um dos principais interlocutores de Dilma.

"Nas minhas conversas com ele era muito também para ele me ajudar com Dilma, com orientação, ou me ajudar a convencê-la de algumas coisas. Ele era uma das poucas pessoas, na minha opinião, que tinha liberdade para dizer para ela algumas coisas que outros não tinham coragem", afirmou.

Outro delator, João Nogueira, ex-diretor de uma das empresas de engenharia do grupo, fez o mesmo relato. Disse que soube que Marcelo entregou uma planilha a Pimentel com a intenção de que ele levasse o caso a Dilma, para que ela tomasse alguma atitude para frear as investigações da Lava Jato, já que ela também seria afetada.

Depoimento de Marcelo Odebrecht

Há em curso uma ação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), movida pelo PSDB, que pede a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer eleita em 2014. Um dos pontos em análise pelo relator, ministro Herman Benjamin, é o suposto uso de doações ilegais na campanha.

O marqueteiro João Santana, citado por Marcelo, será um dos interrogados no TSE. Ele e sua mulher, Mônica Moura, firmaram acordo de delação premiada com o Ministério Público, homologado pelo Supremo Tribunal Federal no último dia 4.

Responsável pela campanha da chapa vencedora, o casal é acusado de receber recursos ilícitos no exterior.

O governador de Minas, Pimentel, também é suspeito de ter recebido doações não declaradas da Odebrecht, no valor total de R$ 13,5 milhões.

No mesmo depoimento em que menciona a ex-presidente, Marcelo afirma que a companhia doou para a campanha de Pimentel R$ 8 milhões em 2014, parte não contabilizada, porque o petista atuou a favor de interesses da empreiteira quando foi ministro do Desenvolvimento no governo Dilma.

OUTRO LADO

O advogado de Pimentel, Eugênio Pacelli, diz que, nesse depoimento, Marcelo Odebrecht "nada diz de concreto". "Ele afirma ter 'mandado recado' à ex-presidente. Recado esse que seria a comprovação de que ele poderia se transformar em um delator, se algo não fosse feito."

"Pela lógica dele nada se fez, certo? Transformou-se em um [delator]. Melhor: no principal. O governador esclarece que sempre teve consciência da impossibilidade de qualquer interferência política na condução da Lava Jato. E foi esse o seu comportamento desde sempre", disse seu advogado, em nota.

"Parece clara a tentativa do delator em repetir uma história muito cara ao Ministério Público: a de que a Lava Jato está em risco! Conversa fiada: não há risco algum!", diz a nota.

A defesa de Pimentel também nega recebimento de dinheiro não declarado em 2014.

"Faltou dizer quais seriam os interesses deles [Odebrecht] que teriam sido atendidos [em troca da doação]. Não sabemos! E tampouco dessa doação não contabilizada", afirmou.


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