Folha de S. Paulo


Folha adiantou revelações feitas por ex-executivos da Odebrecht

Ao longo do último ano, a Folha adiantou algumas das principais revelações da Odebrecht, feitas nas delações premiadas tornadas públicas nesta semana pelo ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).

Já em junho de 2016, reportagem informava que o departamento da empreiteira voltado ao pagamento de propinas trazia codinomes associados a dois ex-ministros de Lula e Dilma Rousseff, Antonio Palocci e Guido Mantega.

Também sobre o ex-presidente, outras acusações foram que a Odebrecht bancou treinamento para seu filho caçula e, sobretudo, que a empresa criou uma espécie de conta com o objetivo de manter o petista influente depois de ele deixar o Palácio do Planalto, em 2010.

Quanto ao atual presidente, Michel Temer, do PMDB, a Folha adiantou em dezembro que um executivo da empreiteira se reuniu em 2010 com o então candidato a vice, acompanhado de Eduardo Cunha, para tratar de repasses de dinheiro, segundo relato de delator.

As delações envolvendo os líderes do PSDB também surgiram antes no jornal.

A Folha mostrou que delatores contaram que Aécio Neves, senador e presidente da sigla, recebeu pagamentos da Odebrecht e também da Andrade Gutierrez por grandes obras federais e de Minas.

O pagamento em espécie ao cunhado do governador Geraldo Alckmin, relatado por delator, já estava em reportagem da Folha no ano passado, assim como a acusação sobre os R$ 23 milhões depositados em contas no Brasil e na Suíça para o senador José Serra, para caixa dois eleitoral.

Os outros dois senadores eleitos por São Paulo, o tucano Aloysio Nunes Ferreira, agora chanceler, e a peemedebista Marta Suplicy também apareceram nas páginas do jornal antes da divulgação dos vídeos pelo Supremo.

Um dos delatores relatou que o próprio Ferreira pediu dinheiro num hotel.

Marta, que concorreu ao cargo pelo PT e depois mudou de legenda, teria recebido em 2010, também para caixa dois.

Veja abaixo a linha do tempo das delações antecipadas pela Folha:

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29.jan.2016

O que a Folha noticiou

A ex-dona de uma loja de materiais de construção e um prestador de serviços de Atibaia (SP) afirmaram à Folha que a Odebrecht realizou a maior parte das obras de reforma em um sítio frequentado pelo ex-presidente Lula e seus familiares em 2010, quando Lula ainda era presidente. A ex-fornecedora relatou pagamentos em dinheiro vivo.

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Odebrecht bancou reforma de sítio usado por Lula, dizem fornecedores

O que disseram os delatores

Emilio Odebrecht afirmou que a ex-primeira-dama Marisa Letícia, mulher de Lula, pediu pessoalmente ao executivo do grupo Alexandrino Alencar, em 2010, que a construtora fizesse as obras no sítio de Atibaia.
Alencar confirmou a realização das reformas e disse que foi usado dinheiro vivo para a compra dos materiais de construção

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21.jun.2016

O que a Folha noticiou

Marcelo Odebrecht vai assumir que controlava pessoalmente recursos legais e ilegais que irrigaram as campanhas presidenciais vencidas por Dilma Rousseff. O executivo dirá que conversou com Dilma em 26 de maio de 2015, quando teria a alertado que os investigadores estavam prestes a descobrir os pagamentos ilícitos

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Marcelo Odebrecht admitirá elo com repasses para Dilma

O que disseram os delatores

"A Dilma, ela sabia que grande parte do nosso apoio estava direcionado para João Santana [marqueteiro]. E, especificamente em 2015, no encontro que tive, já com a Operação Lava Jato deflagrada, tive consciência de todos os depósitos que tinham sido feitos, eu mostrei a ela a quantidade que poderia contaminar a campanha dela", disse Marcelo

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7.ago.2016

O que a Folha noticiou

Executivos da Odebrecht afirmaram a investigadores que a campanha de José Serra (PSDB-SP) à Presidência, em 2010, recebeu R$ 23 milhões da empreiteira via caixa dois. Os executivos, que negociam delação, disseram que parte do dinheiro foi entregue no Brasil e parte foi paga por meio de depósitos bancários em contas no exterior

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Serra recebeu R$ 23 milhões via caixa dois, diz Odebrecht

O que disseram os delatores

Ex-presidente da Odebrecht, Pedro Novis disse que Sérgio Guerra, então presidente do PSDB, lhe pediu doação de R$ 30 milhões para a campanha de Serra em 2010. "Autorizei a realização de pagamentos que somaram o valor aproximado de R$ 23,3 milhões", disse. Depois disso, o governo de SP teria pago a empreiteira por obras com pagamento pendente

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17.ago.2016

O que a Folha noticiou

Marta Suplicy (então PT, hoje PMDB-SP) recebeu doação de R$ 500 mil via caixa dois da Odebrecht na campanha de 2010, segundo informação prestada durante negociação de delação premiada. Segundo depoimento, a negociação sobre os R$ 500 mil foi feita com o empresário Márcio Toledo, hoje marido da senadora

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Odebrecht cita caixa 2 para Marta em 2010

O que disseram os delatores

Marta recebeu recursos de caixa dois da Odebrecht em duas campanhas, segundo Benedicto Junior e Carlos Armando Pashoal. Foram R$ 550 mil em 2008, quando concorreu à Prefeitura de São Paulo, e R$ 500 mil na campanha para o Senado em 2010. Os delatores disseram que os recursos foram pedidos por Márcio Toledo

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9.dez.2016

O que a Folha noticiou

A Odebrecht afirmou que realizou pagamento de caixa dois, em dinheiro vivo, para as campanhas de 2010 e 2014 de Geraldo Alckmin (PSDB-SP). Segundo a delação, R$ 2 milhões em espécie foram repassados a Adhemar Ribeiro, cunhado do tucano. Executivos afirmam que não chegaram a discutir o assunto diretamente com o governador

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Odebrecht diz ter pago caixa 2 a Alckmin em dinheiro vivo

O que disseram os delatores

Alckmin recebeu R$ 10,7 milhões em caixa dois do departamento de propina da Odebrecht, segundo delatores. Segundo depoimentos, Ribeiro recebeu "pessoalmente parte desses valores". Diferentemente do que noticiou a Folha, o delator Carlos Armando Paschoal disse que Alckmin acertou pessoalmente o repasse de R$ 2 milhões em 2010

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16.dez.2016

O que a Folha noticiou

O ex-executivo da Odebrecht Márcio Faria afirmou que o presidente Michel Temer participou de reunião em 2010 para tratar de doações ao PMDB em troca de facilitar a atuação da empreiteira na Petrobras. Pelo relato, o encontro foi no escritório de Temer em SP, com Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e João Augusto Henriques, tido como lobista do PMDB

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Temer esteve em reunião sobre doações, diz delator

O que disseram os delatores

Faria afirmou que Michel Temer comandou em 2010 reunião, em seu escritório em SP, em que se acertou pagamento de US$ 40 milhões de propina relativos a 5% de contrato com a Petrobras. Além de Michel Temer, segundo o delator, participaram Rogério Araújo, da Odebrecht, Cunha, Henriques e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN)

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23.dez.2016

O que a Folha noticiou

Marcelo Odebrecht relatou que uma espécie de conta que a empresa mantinha em nome de Lula tinha o objetivo de manter o petista influente depois que ele saísse da Presidência. A conta era gerenciada por Antonio Palocci. Branislav Kontic, ex-assessor de Palocci, é apontado como encarregado de transportar o dinheiro em espécie que abastecia a "conta"

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Odebrecht revela estratégia para manter Lula influente

O que disseram os delatores

Ao juiz Sergio Moro, o delator Fernando Migliaccio, que gerenciava as propinas da Odebrecht, disse que um assessor do ex-ministro Antonio Palocci fazia saques de até R$ 1 milhão em dinheiro vivo no seu escritório. O assessor, Branislav Kontic, fazia os saques por ordem de Palocci, segundo Migliaccio e outros delatores

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2.fev.2017

O que a Folha noticiou

O delator Benedicto Júnior disse que se reuniu com Aécio Neves (PSDB-MG) para tratar de fraude em licitação na obra da Cidade Administrativa de Minas. Após o acerto, disse BJ, Aécio orientou as construtoras a procurarem Oswaldo Borges da Costa Filho, colaborador das campanhas do tucano. A propina ficaria entre 2,5% e 3% sobre os contratos

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Aécio acertou fraude em licitação, diz Odebrecht

O que disseram os delatores

Benedicto Júnior disse que a Odebrecht pagou R$ 5,2 milhões a homem de confiança de Aécio entre 2007 e 2009 pela participação na obra. Subordinado a BJ, o delator Sérgio Neves negociou a propina com Costa Filho. Teriam de ser pagos 3% sobre o contrato. Costa Filho teria dito que o dinheiro iria para campanhas de Aécio

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19.fev.2017

O que a Folha noticiou

O ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht Alexandrino Alencar, que fechou acordo de delação premiada, disse, em depoimento à Lava Jato, que Luiz Inácio Lula da Silva pediu que a empreiteira bancasse um "coaching" (treinamento) a seu filho Luiz Cláudio Lula da Silva com o objetivo de ensinar a ele técnicas de gestão empresarial

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Lula pediu à Odebrecht treinamento para o filho

O que disseram os delatores

Alexandrino Alencar relatou que Lula procurou Emílio Odebrecht, patriarca do grupo que leva seu nome, e pediu ao empresário para que a empreiteira ajudasse a alavancar a carreira empresarial do seu filho mais novo. "O presidente Lula queria que o grupo fizesse o que chamam no jargão administrativo fazer um 'coaching' no rapaz", disse

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23.fev.2017

O que a Folha noticiou

A Odebrecht relatou o pagamento de R$ 2,5 milhões de caixa dois para a campanha de 2014 do deputado federal Andrés Sanchez (PT-SP), ex-dirigente do Corinthians, eleito naquele ano. A informação consta dos acordos de delação do ex-diretor-superintendente Luiz Bueno e do ex-presidente de Infraestrutura Benedito Júnior, o BJ

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Odebrecht delata caixa 2 para deputado

O que disseram os delatores

A empreiteira baiana apresentou ao Ministério Público Federal uma planilha que aponta pagamentos de R$ 3 milhões para o deputado Andrés Sanchez (PT-SP) por meio de doação de campanha não contabilizada, o chamado caixa dois. A planilha foi entregue ao Ministério Público por Benedito Júnior, o BJ. A delação de Luiz Bueno continua sob sigilo

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12.mar.2017

O que a Folha noticiou

O ex-diretor da Odebrecht Carlos Armando Paschoal, o CAP, relatou em delação premiada o pagamento de R$ 500 mil via caixa dois para acampanha ao Senado de Aloysio Nunes (PSDB). O repasse, segundo o delator, ocorreu em 2010. Segundo CAP, o próprio Aloysio pediu o dinheiro e as entregas foram realizadas em duas ou três parcelas em hotéis

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Ex-diretor da Odebrecht delata caixa 2 a Aloysio

O que disseram os delatores

CAP afirmou que Aloysio pediu repasse em 2010 e recebeu R$ 500 mil por caixa dois. "Aloysio Nunes lhe pediu ajuda na sua campanha, o colaborador então teria lhe dito sobre as negociações pendentes de interesse da Odebrecht na Dersa e o senador [...] teria se comprometido a interceder a favor da empresa", diz documento

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19.mar.2017

O que a Folha noticiou

Marcelo Odebrecht e outros executivos do grupo disseram em acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal que acertaram, junto com a Andrade Gutierrez, o repasse de R$ 50 milhões ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) após vencerem o leilão para a construção da hidrelétrica Santo Antônio, em Rondônia, em dezembro de 2007

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Odebrecht diz ter acertado repasse de R$ 50 milhões a Aécio

O que disseram os delatores

Marcelo e o delator Henrique Valladares disseram que, em 2008, conversaram sobre o setor elétrico com Aécio e ele disse que eles seriam procurados por Dimas Toledo (ex-Furnas). Na reunião não foi discutida propina, segundo Valladares, mas quando ambos saíram Marcelo disse que foi acertado R$ 50 milhões referentes às obras


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