Folha de S. Paulo


Odebrecht deu US$ 5,75 mi no exterior para campanha de Paes, diz delator

Ricardo Borges/Folhapress
Ex-prefeito do Rio, Eduardo Paes, em seu antigo gabinete
Ex-prefeito do Rio, Eduardo Paes, em seu antigo gabinete

A Odebrecht pagou R$ 11,6 milhões em espécie e US$ 5,75 milhões em contas no exterior para a campanha à reeleição de Eduardo Paes (PMDB-RJ) para a prefeitura do Rio, em 2012, segundo Benedicto Barbosa da Silva Júnior, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura.

Em delação premiada, Benedicto Júnior afirmou que foi procurado pelo então prefeito, que pediu doações para a disputa eleitoral. "Eu achei o valor um pouco fora, mas tendo em vista a projeção de negócios que nós tínhamos no Rio de Janeiro, achei que deveria fazê-lo", declarou.

Odebrecht deu US$ 5,75 mi no exterior para campanha de Paes, diz delator

O ex-executivo entregou aos procuradores cópias de planilhas do sistema "Drousys", utilizado para controlar os repasses ilegais a políticos, que listam pagamentos de R$ 11,67 milhões em espécie no Brasil, além de comprovantes de transferência bancária de US$ 5,75 milhões em contas nas Bahamas e na Suíça.

Segundo Benedicto Júnior, as contas foram fornecidas à Odebrecht pelo deputado federal Pedro Paulo (PMDB-RJ), que era coordenador de campanha de Paes e foi indicado pelo então prefeito para tratar dos repasses.

"A parte que foi paga no exterior, a gente tem os comprovante dos 'swifts' para duas contas que foram fornecidas pelo dr. Pedro Paulo", disse o ex-executivo.

Os comprovantes de transferência entregues por Benedicto Júnior aos procuradores revelam três repasses de US$ 1,25 milhão para uma conta na Suíça, em junho e julho de 2012, e outros dois repasses de US$ 1 milhão para uma conta nas Bahamas, em setembro.

Nas planilhas da Odebrecht, Paes aparece com o apelido de "Nervosinho". "Optei por colocar o codinome de Nervosinho tendo em vista ele ser uma pessoa muito elétrica, muito intensa nas suas conduções", explicou Benedicto Júnior.

O ex-executivo declarou ainda que, na campanha de 2008, Paes também o havia procurado para pedir doações no valor total de R$ 1,1 milhão, pagas via caixa dois.

"Ele pediu R$ 650 mil, depois fez um segundo pedido de R$ 510 mil. No momento em que ele me pediu, eu informei que os valores eram muito acima de um candidato a prefeito, que teria que fazer via caixa dois. Ele entendeu e não me questionou", disse.

Benedicto Júnior declarou ainda que, na campanha de 2014, Paes pediu que a Odebrecht doasse R$ 300 mil para a campanha de Pedro Paulo a deputado federal. O pagamento, segundo ele, também se deu "por fora".

O ex-executivo disse que não houve a negociação de uma contrapartida específica em troca do dinheiro. "O beneficio foi a gente poder participar das licitações e conseguir estudar e depois viabilizar a contratação", declarou.

OUTRO LADO

Eduardo Paes nega que tenha aceitado propina para facilitar ou beneficiar os interesses da empresa Odebrecht e ressalta que nunca teve contas no exterior.

Pedro Paulo negou ter recebido doações da Odebrecht, afirmou que nunca teve relação com nenhum dos delatores da empresa e desafiou executivos da empreiteira a provaram quem recebeu dinheiro indevidamente em seu nome.

INVESTIGAÇÃO

O ministro Edson Fachin determinou a abertura de inquérito contra oito ministros do governo Michel Temer (PMDB), 24 senadores e 39 deputados federais. Serão abertas 76 investigações pedidas pela Procuradoria-Geral da República após as delações da Odebrecht.

Operação Lava Jato

Entre os citados estão os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB). Dois dos principais aliados de Temer, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secreraria-Geral), também estão na lista, que abrange ainda os senadores Romero Jucá e Renan Calheiros, do PMDB, e Aécio Neves (PSDB).

No total a relação tem 98 nomes e inclui três governadores e um ministro do Tribunal de Contas da União. Algumas suspeitas da Procuradoria são corrupção, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, fraude e cartel. Fachin remeteu 201 outros casos a tribunais de instâncias inferiores envolvendo citados sem foro no Supremo –entre os mencionados estão os ex-presidentes Lula, Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso.

Os inquéritos iniciam longo trâmite. Investigarão o teor das delações, que precisarão de provas adicionais para tornar-se efetivas. Ainda há as fases de denúncia e do processo, com ampla defesa, antes do julgamento.

Chamada - A lista de Fachin

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