Folha de S. Paulo


Dinheiro vivo abastecia Aécio, afirmam delatores da Odebrecht

Pedro Ladeira/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 04-04-2017, 15h00: O senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente nacional do PSDB fala na tribuna do Senado se defendendo das acusações publicadas na revista Veja dessa semana, de que ele teria recebido propina em uma conta em nome de sua irmã em Nova York. Ele recebeu o apoio de vários senadores. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) na tribuna do Senado Federal

Ex-executivos da empreiteira Odebrecht disseram em delação que valores pedidos pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) à empresa e não contabilizados oficialmente foram entregues em dinheiro vivo em concessionárias de máquinas e até em apartamento de assessor parlamentar.

Os delatores também afirmaram que parte dos valores destinados ao PSDB foram transferidos a uma agência de publicidade de um marqueteiro de campanhas tucanas, que simulou a prestação de serviços para a Odebrecht.

Segundo petição do Ministério Público, o ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Barbosa da Silva Júnior, conhecido como BJ, disse que tinha "relação fluida com Aécio Neves, chegando a se encontrar semanalmente com ele".

BJ e outro ex-executivo da Odebrecht, Sérgio Luiz Neves, afirmaram que em 2010 a construtora fez repasses não registrados oficialmente para atender a pedidos do tucano que somaram aproximadamente R$ 5,5 milhões.

Aécio teria dito que o montante seria destinado à campanha ao governo de Minas do atual senador Antonio Anastasia (PSDB-MG).

O valor foi dividido em oito parcelas que foram entregues em dinheiro vivo, a maior parte na concessionária Minas Máquinas localizada na avenida Raja Gabaglia, em Belo Horizonte, ao empresário Oswaldo Borges da Costa Filho, aliado de Aécio, de julho a setembro de 2010, segundo a delação.

Já durante a campanha de 2014, Aécio pediu contribuições para campanha dele, de Anastasia, do então candidato tucano ao governo de Minas Pimenta da Veiga e do deputado federal Dimas Fabiano (PP-MG), segundo BJ.

Foi acertado um repasse no valor de R$ 6 milhões. Desse total, R$ 500 mil destinados a Aécio foram entregues também a Costa Filho em uma concessionária de máquinas e caminhões situada na rodovia BR-381, de acordo com a colaboração premiada.

Outros R$ 2,5 milhões em espécie, de forma parcelada, foram levados para um apartamento situado na rua Olegário Maciel, no bairro de Lourdes, em Belo Horizonte.

A parte reservada ao deputado e aliados, R$ 3 milhões, teve como destino a casa de um assessor parlamentar de Dimas Fabiano chamado Anderson. A quantia foi entregue em apartamento situado na rua Assunção, no bairro Sion, também em BH.

De acordo com as delações, também foram feitos repasses a tucanos por meio da agência de publicidade PVR Propaganda e Marketing, de Paulo Vasconcelos do Rosário Neto, marqueteiro que trabalhou para o PSDB.

Segundo Neves, em 2009 foi acertada a transferência de R$ 1,8 milhão e a assinatura de um contrato fictício entre a agência de publicidade e a Odebrecht para viabilizar a operação.

Em 2014, a construtora também transferiu R$ 3 milhões para a campanha presidencial de Aécio com a intermediação da agência.

OUTRO LADO

Aécio afirma que "considera importante o fim do sigilo sobre o conteúdo das delações e considera que assim será possível demonstrar a correção de sua conduta".

O senador Anastasia diz que "nunca tratou de qualquer assunto ilícito".

Dimas Fabiano nega ter mantido contato com executivos da Odebrecht e que tenha sido destinatário de recursos doados pela empresa.

O publicitário Paulo Vasconcelos afirma que conduziu todas as campanhas eleitorais respeitando as leis.

A Folha não conseguiu fazer contato com defesa de Oswaldo Borges da Costa Filho na noite de quarta-feira (12).


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