Folha de S. Paulo


Odebrecht afirma que Temer deixou jantar na hora do acerto de R$ 10 mi

Em sua delação premiada, Marcelo Odebrecht afirmou que o presidente Michel Temer se levantou da mesa de um jantar em 2014 no momento em que se falou de uma doação de R$ 10 milhões para campanhas do PMDB daquele ano.

À época, Temer era candidato a vice-presidente, na chapa de Dilma Rousseff.

O encontro aconteceu no Palácio do Jaburu e foi um "shake hands" (aperto de mãos), segundo palavras do herdeiro da empresa, em referência ao fato de ser apenas um momento protocolar para firmar algo que estava acertado previamente.

Marcelo Odebrecht fala sobre jantar de R$ 10 milhões com Temer

"E aí, entre o cafezinho e a sobremesa, Temer sai, se levanta da mesa, e estava eu, Temer, Claudio [Melo Filho, vice-presidente de Relações Institucionais da empreiteira] e [Eliseu] Padilha. E aí, a gente decide que estão acertados os R$ 10 milhões, e que R$ 6 milhões eram para o Paulo [Skaf, candidato a governador de São Paulo]", disse o ex-presidente do grupo baiano ao Ministério Público.

Marcelo deixa claro, porém, que mesmo ausente da mesa no momento em que os valores foram tratados, o presidente sabia o tema e da negociação e a quantia do apoio.

"Temer não falaria de dinheiro nem comigo, nem com a esposa. (...) Temer nunca mencionou para mim os R$ 10 milhões, obviamente ele sabia do jantar e tudo mais", afirmou o delator.

Os depoimentos dos 77 delatores da empresa se tornaram públicos nesta quarta-feira (12), quase três meses depois de o STF (Supremo Tribunal Federal) homologar o acordo.

Segundo a versão de Marcelo, foi Eliseu Padilha, hoje ministro da Casa Civil, o primeiro a pedir ajuda financeira a Melo Filho e especificar os R$ 10 milhões.

Desse montante, R$ 6 milhões foram repassados para a campanha de Skaf, o que havia sido combinado de antemão.

Pedro Ladeira/Folhapress
Michel Temer participa de assinatura de atos em prol das mulheres
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CONTRIBUIÇÃO PARA SKAF

De acordo com o depoimento de Marcelo, era ele quem tinha relação direta com Skaf e foi acionado para ajudar na campanha ao governo de São Paulo.

O empreiteiro afirmou, porém, que o valor pedido, de R$ 6 milhões, era muito alto em comparação com as doações para outros candidatos. Por esse motivo, sugeriu que a quantia fosse repassada pelo grupo de Temer.

O herdeiro do grupo baiano contou que chegou a receber uma ligação do presidente, intermediada por Skaf.

"Ele [Temer] disse assim: 'Marcelo, vc sabe, nosso amigo aqui [Paulo Skaf], apoia ele". Eu desliguei".

O empresário não detalha como os R$ 10 milhões foram usados, mas diz que parte da fatia de Skaf foi usada para pagar o marqueteiro Duda Mendonça, que trabalhou na campanha.

O acerto demorou certo tempo para acontecer, chegou a virar um imbróglio, segundo a versão de Marcelo. Ele contou que o publicitário teve de recorrer a várias pessoas do grupo para poder receber.

INVESTIGAÇÃO

O ministro Edson Fachin determinou a abertura de inquérito contra oito ministros do governo Michel Temer (PMDB), 24 senadores e 39 deputados federais. Serão abertas 76 investigações pedidas pela Procuradoria-Geral da República após as delações da Odebrecht.

Operação Lava Jato

Entre os citados estão os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB). Dois dos principais aliados de Temer, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secreraria-Geral), também estão na lista, que abrange ainda os senadores Romero Jucá e Renan Calheiros, do PMDB, e Aécio Neves (PSDB).

No total a relação tem 98 nomes e inclui três governadores e um ministro do Tribunal de Contas da União. Algumas suspeitas da Procuradoria são corrupção, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, fraude e cartel. Fachin remeteu 201 outros casos a tribunais de instâncias inferiores envolvendo citados sem foro no Supremo –entre os mencionados estão os ex-presidentes Lula, Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso.

Os inquéritos iniciam longo trâmite. Investigarão o teor das delações, que precisarão de provas adicionais para tornar-se efetivas. Ainda há as fases de denúncia e do processo, com ampla defesa, antes do julgamento.

Chamada - A lista de Fachin

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