Delatores da Odebrecht relataram pagamento de R$ 1 milhão por meio de caixa dois à campanha de Aloizio Mercadante (PT) ao governo do Estado de São Paulo em 2010.
Segundo os depoimentos, os repasses foram viabilizados por Edinho Silva (PT), então tesoureiro da campanha e atual prefeito de Araraquara.
Os relatos foram feitos pelo ex-diretor da empresa em São Paulo Carlos Armando Pachoal, o CAP, e por Benedicto Barbosa da Silva Júnior, o BJ, ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura –preso durante a 23ª fase da Operação Lava Jato, em fevereiro de 2016.
Segundo Paschoal, Benedicto Júnior o procurou dizendo que havia combinado com Mercadante uma doação via caixa dois e que Edinho entraria em contato para operacionalizar os pagamentos.
Paschoal e Edinho, então, se encontraram num café no shopping Eldorado, na zona sul de São Paulo, e em Araraquara para acertar os repasses. Foram dois pagamentos de R$ 250 mil e um de R$ 500 mil entre julho e setembro. O dinheiro era entregue em hotéis nas regiões de Moema, Itaim e Jardins. O codinome para se referir a Mercadante era Aracaju.
No encontro em Araraquara, Paschoal conta que Edinho pediu também uma contribuição para sua própria campanha -ele concorria ao cargo de deputado estadual naquele ano. Foi feito, então, um pagamento de R$ 50 mil reais para a campanha de Edinho, que levou o codinome de Itambé.
Paschoal relatou ainda que, na campanha de 2010, doou de R$ 6 milhões a R$ 7 milhões a candidatos no Estado de São Paulo. Ele diz que Mercadante também recebeu R$ 400 mil de forma oficial, declarada à Justiça Eleitoral.
O ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou o envio dos depoimentos à Procuradoria Regional da República da 3º Região em São Paulo, já que Mercadante e Edinho não têm foro privilegiado.
Mercadante chefiou a Casa Civil de Dilma Rousseff e, depois, assumiu seu Ministério da Educação. Edinho esteve à frente da Secretaria de Comunicação da Presidência. Em 2010, durante a campanha pelo governo do Estado, Edinho presidia o diretório paulista do PT.
PETROBRAS
Em outra decisão, Fachin determinou o envio de trechos da delação de outro executivo, Rogério Santos de Araújo, à Procuradoria Regional da República da 3º Região em São Paulo.
O ex-diretor da Odebrecht diz que uma lista de empresas com aditivos pendentes com a Petrobras foi enviada à Edinho em 2014. Na época, ele coordenava a campanha de Dilma Rousseff à reeleição.
Segundo Araújo, a intenção era que Edinho buscasse essas empresas, entre elas a Odebrecht, para solicitar doações em troca da aprovação dos aditivos na Petrobras.
OUTRO LADO
A assessoria de imprensa de Mercadante informou que o político não teve acesso e desconhece o teor das acusações. "As contribuições para as campanhas do ex-ministro, Aloizio Mercadante, sempre ocorreram dentro da legalidade, sendo todas as prestações de contas transparentes e aprovadas pela justiça eleitoral."
Segundo a nota, o ex-ministro reafirma que nunca delegou ou aceitou contribuições não oficiais para suas campanhas e está à inteira disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos necessários.
Em nota, Edinho Silva diz não conhecer Rogério Santos Araújo: "Nunca esteve com ele e, portanto, jamais tratou de qualquer tema relacionado à Petrobras".
"Edinho assumiu a tarefa coordenador financeiro nos meses anteriores à campanha em 2014", informa o ex-ministro, que também diz que não atuou na arrecadação da campanha de Mercadante em 2010.
INVESTIGAÇÃO
O ministro Edson Fachin determinou a abertura de inquérito contra oito ministros do governo Michel Temer (PMDB), 24 senadores e 39 deputados federais. Serão abertas 76 investigações pedidas pela Procuradoria-Geral da República após as delações da Odebrecht.
Entre os citados estão os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB). Dois dos principais aliados de Temer, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secreraria-Geral), também estão na lista, que abrange ainda os senadores Romero Jucá e Renan Calheiros, do PMDB, e Aécio Neves (PSDB).
No total a relação tem 98 nomes e inclui três governadores e um ministro do Tribunal de Contas da União. Algumas suspeitas da Procuradoria são corrupção, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, fraude e cartel. Fachin remeteu 201 outros casos a tribunais de instâncias inferiores envolvendo citados sem foro no Supremo –entre os mencionados estão os ex-presidentes Lula, Dilma Rousseff e Fernando Henrique Cardoso.
Os inquéritos iniciam longo trâmite. Investigarão o teor das delações, que precisarão de provas adicionais para tornar-se efetivas. Ainda há as fases de denúncia e do processo, com ampla defesa, antes do julgamento.