Folha de S. Paulo


Jogo do Brasil tem propaganda de Doria paga por empresário

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Propaganda do programa 'Cidade Linda' no jogo Uruguai x Brasil
Propaganda do programa 'Cidade Linda' no jogo Uruguai x Brasil

Enquanto a seleção brasileira de futebol massacrava o Uruguai em Montevidéu na noite desta quinta-feira (23), as placas publicitárias eletrônicas do estádio Centenário apresentavam para toda a audiência no Brasil a logomarca do Cidade Linda, carro-chefe do marketing do prefeito paulistano, João Doria (PSDB).

Foi a primeira exposição nacional do programa de zeladoria urbana do tucano, cada dia mais pré-candidato à Presidência em 2018, e com a marca polêmica que tem caracterizado suas ações: ela ocorreu graças a uma doação de um empresário amigo.

No caso, o dono da farmacêutica Ultrafarma, Sydney Oliveira. Segundo a Secretaria de Comunicação da prefeitura, o empresário cedeu dois minutos de exposição de marca que havia comprado nas placas.

Considerando a provável alta audiência do jogo, válido pelas Eliminatórias da Copa de 2018, o programa atingiu pela primeira vez o território nacional fora de noticiários.

Segundo a prefeitura, não houve ônus algum ao município e o valor a que Oliveira renunciou não é conhecido.

A Ultrafarma já esteve no centro de uma controvérsia na gestão Doria, quando o prefeito postou um vídeo antes de reunião com seu secretariado no qual propagandeava suplementos de Oliveira.

Não há ilegalidade, mas a ação, que visava retribuir doação de medicamentos do setor privado, recebeu críticas naturais em um momento em que a relação entre políticos e empresários está sob xeque devido à Operação Lava Jato.

Placas eletrônicas são consideradas uma mídia cara, mas não muito eficientes. Estudos mostram que o telespectador não dá tanta bola assim à propaganda enquanto assiste a um jogo.

Isso dito, a propaganda ocorre no momento em que Doria vem sendo assediado pelo empresariado.

Em jantar oferecido pela socialite Lucília Diniz na terça (21), os presentes quase o ovacionaram como presidenciável. Isso só não ocorreu porque o padrinho político do prefeito, o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), estava presente quando o tucano chegou.

Para evitar constrangimento, Doria fez questão de repetir que Alckmin é seu candidato a presidente.

Segundo integrantes da equipe do prefeito, ele "não irá fazer nada", mas sabe que o clima está a seu favor e não se negaria a entrar na disputa.

Por gravidade, Doria pode encerrar o ano como único político antipetista em condições de disputar contra Luiz Inácio Lula da Silva ou algum apadrinhado do ex-presidente – a presença do antecessor do tucano, Fernando Haddad (PT), em evento com Lula na semana passada não passou despercebida.

Isso porque líderes do PSDB, como os senadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP), além de Alckmin, estão em maior ou menor grau citados na Lava Jato. Lula, por sua vez, pode até ser impedido de concorrer, se receber condenação em duas instâncias no caso.

Para a viabilidade ocorrer, é preciso que Doria mantenha a boa aprovação (44% de ótimo e bom segundo o Datafolha) em São Paulo, e não serão dois minutos de propaganda gratuita que garantirão isso. Mas o jogo está rolando.


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