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Caixa dois da chapa Dilma-Temer foi entregue em hotéis e flats, diz delator

Pedro Ladeira/Folhapress
O ex-executivo da Odebrecht Alexandrino de Alencar, que será ouvido por ministro do TSE, desembarca no aeroporto de Brasília
O ex-executivo da Odebrecht Alexandrino de Alencar desembarca no aeroporto de Brasília

Em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandrino Alencar, ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht, afirmou que operacionalizou a entrega em espécie de R$ 21 milhões de caixa dois para três partidos aliados da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer em 2014.

A maioria dos recursos foi entregue em hotéis e flats em São Paulo, segundo ele. Os partidos beneficiados foram, de acordo com o depoimento, PRB, Pros e PC do B. Ao todo, contou o delator, cada um recebeu R$ 7 milhões. Ele menciona ainda mais R$ 4 milhões para o PDT, mas disse que outra pessoa da Odebrecht cuidou desta parte.

Pelo PRB, o interlocutor, relatou o delator, foi o atual ministro de Indústria e Comércio, Marcos Pereira. "Pelo PROS, o meu interlocutor foi o presidente do PROS, Eurípedes Junior; pelo PCdoB, foi o senhor chamado Fábio (...), que é de Goiás aqui; e pelo PRB, o atual Ministro Marcos Pereira, que era presidente do PRB", disse.

"Às vezes a pessoa, o partido, ficava num hotel e o recurso ia para o hotel, ou tinha um lugar fixo em São Paulo, um flat, onde as pessoas dos partidos iam lá buscar", afirmou.

O depoimento foi prestado no dia 6 de março ao ministro Herman Benjamin, relator do processo de cassação da chapa. A Folha teve acesso às transcrições do seu teor nesta quinta (23).

Um juiz auxiliar do ministro do TSE perguntou ao delator: "O senhor mencionou a forma de pagamento, seria caixa dois?. "Sim. Dinheiro em espécie", respondeu Alexandrino.

"Entregue em hotéis e flats e operações desse tamanho", disse.

Segundo ele, havia uma demanda para a Odebrecht ajudar na "compra de partidos" em uma negociação com o petista Edinho Silva, então tesoureiro da campanha.

"Houve essa demanda para gente contribuir via caixa dois, e eu fiquei encarregado de três partidos. Então, três partidos foram feitos por mim, a saber: o PROS, o PC do B e o PRB", disse Alexandrino.

"Teve uma reunião por volta de junho de 14, nos nossos escritórios, é uma reunião que estava presente o Edinho Silva, Marcelo e eu. Fomos os três. Então, veio uma demanda do então tesoureiro da chapa, Edinho Silva, nos solicitando a comparecer com esses cinco partidos", afirmou.

O ministro do TSE então indaga se o dinheiro era para "compra" das legendas. O ex-diretor da Odebrecht então respondeu: "Sim, para a compra dos partidos. E tanto é, depois quando eu contatei as pessoas que o Edinho me solicitou pra falar, era claramente uma compra do tempo de TV, que, se não me engano, isso deu, aproximadamente, 1/3 (um terço) a mais de horário de TV para a chapa".

"O Edinho Silva chegou e disse: "olha, nós estamos fazendo... Estamos conversando com os partidos e os partidos vão entrar na coligação por tempo de TV e o compromisso é pagar 7 (sete) milhões para cada partido", disse.

"Os partidos gostariam de ser mais rápido. Então, às vezes, os partidos voltavam para o Edinho, o Edinho me ligava e dizia: 'Olha, Alexandrino, estão me ligando do partido de fulano de tal, estão preocupados'", declarou. "Durante a eleição, praticamente toda semana eu me encontrava com ele [Edinho]", ressaltou.

Questionado sobre quais seriam as outras duas legendas, o depoente respondeu: "Foi o PDT. E o outro, PP, eu não me recordo. Realmente eu não me recordo. Ficou um negócio meio dúbio e, como não ficou comigo, eu também não me preocupei com isso aí".

Ele disse não ter certeza se a Odebrecht arcou com os recursos para essas duas siglas. Afirmou acreditar que a empreiteira repassou R$ 4 milhões ao PDT. Somados aos R$ 21 milhões, o valor superou a doação oficial, segundo o delator.

As operações, afirmou o delator, foram autorizadas por Marcelo Odebrecht, ex-presidente e herdeiro do grupo.

O dinheiro saía, de acordo com ele, do Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht, que contabilizava o pagamento de propina.

OUTRO LADO

No dia 6, quando informações sobre o depoimento de Alexandrino foram divulgadas, Edinho Silva, hoje prefeito de Araraquara, negou as acusações."Essa é uma tese para criminalizar a campanha da Presidenta Dilma. Todas as coligações são ideológicas, as da campanha Dilma são compra de tempo? Absurdo. Nunca pedi doações não fossem legais", afirmou ele.

"Por que pediria doações para partidos que não fossem legais? Qual a diferença isso faz para a campanha Dilma? Uma acusação mentirosa que não ficará "em pé" como a Andrade Gutierrez que se mostrou mentirosa", disse.

Na semana passada, quando teve o nome envolvido nos pedidos de inquérito da Procuradoria-Geral da República, o ministro Marcos Pereira afirmou que vai se colocar "à disposição das autoridades competentes para prestar os esclarecimentos necessários à elucidação da verdade, bem como fornecerei todos os documentos ao meu alcance aptos a afastar essa injusta conjectura". "É importante reiterar que o partido PRB teve suas contas devidamente aprovadas e não se tem conhecimento de qualquer recebimento de valor fora àqueles declarados à Justiça Eleitoral", disse.


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