Folha de S. Paulo


Blogueiro diz ter falado com Instituto Lula para checar dados

Marcos Bezerra/Futura Press/Folhapress
Eduardo Guimarães, do blog Cidadania, alvo de um mandado de condução coercitiva, deixa à sede da Polícia Federal em São Paulo
Eduardo Guimarães, do blog Cidadania, deixa a sede da Polícia Federal em São Paulo

Levado para depor na terça (21), o blogueiro Eduardo Guimarães, 57, diz que falou com a assessoria do Instituto Lula, mas não para vazar a informação de que o ex-presidente seria alvo de uma condução coercitiva.

Afirma que queria checar informações sobre a suposta quebra de sigilo fiscal de Lula e de outras empresas investigadas pela Lava Jato, decretada pelo juiz Sergio Moro.

Ele diz ter recebido esses dados em uma sequência de mensagens de áudio no WhatsApp na noite de 23 de fevereiro de 2016, dizendo que os sigilos seriam quebrados na semana seguinte.

O emissário seria um homem ligado a uma auditora da Receita Federal. Guimarães diz que a Polícia já descobriu suas identidades –à Folha a Justiça Federal do Paraná diz que a ação contra o blogueiro é sigilosa.

O blogueiro, alinhado ao PT, mantém desde 2010 o "Blog da Cidadania".

Ele publicou a notícia sobre a quebra de sigilo fiscal em 26 de fevereiro.

Dois dias depois, afirmou que uma "segunda fonte" procurou o blog para contar que as quebras de sigilo seriam anunciadas em meio a uma operação "nos imóveis do ex-presidente, de seus familiares e de seus amigos".

Essa segunda fonte, segundo Guimarães, não existiu. Foi uma "forma de dizer" o que ouviu de amigos e advogados: quebras de sigilo vêm acompanhadas de mandados de busca e apreensão.

José Chrispiniano, assessor do Instituto Lula, diz que Guimarães o procurou para checar informações sobre o sigilo fiscal.

A notícia do contato com o Instituto Lula foi publicada por Guimarães em seu blog em 26 de fevereiro de 2016.

"Sabia que eu iria me expor, não sou burro. Mas a verdade é que eu estava fazendo jornalismo. Achava que ter publicado aquela informação seria a garantia de que fiz a coisa certa", diz o blogueiro.

TRAJETÓRIA

Guimarães integra os "blogueiros progressistas", grupo associado a sites de esquerda como a revista "Fórum" e o "Diário do Centro do Mundo".

A página, porém, não é seu ganha-pão: ele é representante comercial de indústrias de autopeças.

Filho de uma família de posses —o avô era um alto executivo da Mercedes-Benz no Brasil—, acabou não conseguindo terminar a graduação em administração.

Conta que tem perdido clientes desde que representou contra Moro no CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e tem dificuldades para pagar o aluguel e as despesas médicas do tratamento de sua filha mais nova, que sofre de paralisia cerebral.

Em fevereiro, foi intimado por Moro a depor por ter chamado o magistrado de "psicopata" nas redes sociais.

Guimarães não é jornalista de formação, mas está na imprensa desde 1994. Até 2006, escrevia cartas diariamente para principais jornais do país, principalmente a "O Estado de S. Paulo". Eram comentários sobre a política e avaliava a cobertura jornalística —conta ser apaixonado por jornais desde 1974.

Sua primeira aparição na Folha foi em março de 2000, quando escreveu ao jornal elogiando a existência rara de "políticos decentes".

"Aquilo era fascinante. Me sentia influindo nas coisas", diz Guimarães.

Em meados de 2006, diz ter notado que suas cartas demoravam ou não eram publicadas. Avalia que por se posicionar de maneira diferente diante do desenrolar do mensalão: "Havia uma tentativa de golpe no Brasil".

Começou a enviar artigos para o "Observatório da Imprensa" e, em 2006, criou seu primeiro blog, majoritariamente, com críticas do noticiário e comentários políticos.

Em 2014, passou a ser convidado para entrevistas coletivas com o ex-presidente Lula, que telefonou na quarta (22) prestando solidariedade. Seus únicos contatos com o petista foram nessas circunstâncias, ele diz.

"Não considero [o blog] propaganda política. Considero um blog de um viés político que não agrada ao establishment", ele diz. "É o que faz um Reinaldo Azevedo e um 'O Antagonista' mas em sentido contrário."


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