Folha de S. Paulo


Derrota por 7x1 na Copa influenciou nas eleições, dizem pesquisadores

Gabriel Bouys - 8.jul.2014/AFP Photo
O jogador David Luiz chora após derrota do Brasil pela Alemanha por 7x1 na Copa de 2014
O jogador David Luiz chora após derrota do Brasil pela Alemanha por 7x1 na Copa de 2014

David Luiz só queria dar alegria pro seu povo, mas acabou dando um golpe (ou impeachment, a depender do lado da torcida) na presidente da República.

Se de 2014 para cá todo dia foi um 7x1 diferente para Dilma Rousseff na popularidade, na economia e no Congresso, isso tem a ver, sim, com o fracasso no Brasil na Copa, argumentam os economistas Eduardo Zilberman e Carlos Carvalho, este do Banco Central.

Ao cruzar a cronologia de eventos da última eleição presidencial com o movimento na Bolsa de Valores, os dois perceberam que o impacto sobre o mercado financeiro da derrota para a Alemanha foi semelhante sobre o resultado apertado no primeiro turno.

Nos dois casos, os investidores anteciparam o enfraquecimento futuro da petista e o fortalecimento da oposição e precificaram isso nas ações. O vexame da seleção, portanto, foi também um choque político.

"A nossa hipótese é que já existia uma insatisfação latente com o governo que o 7x1 fez aflorar, e o mercado financeiro percebeu isso", diz Zilberman.

As manifestações de junho de 2013 e os efeitos da desaceleração econômica, que já começavam a ser sentidos, foram potencializados pelo mal desempenho no futebol –ainda que o governo não tenha nada a ver com esse campo.

De acordo com os professores da PUC-Rio, essa conexão entre esporte e política na cabeça do eleitor não é nova e nem exclusiva do Brasil. Pesquisadores nos Estados Unidos, por exemplo, já observaram que a vitória de times de futebol americano locais a poucos dias da eleição fortalece o atual incumbente nas urnas.

Do mesmo modo, em caso de derrota, os eleitores puniam o governante votando contra ele.

Alan Marques - 2.jun.2014/Folhapress
Dilma Rousseff, então presidente, e o ex-jogador Cafu em apresentação oficial da taça da Copa do Mundo, em 2014
Dilma Rousseff, então presidente, e o ex-jogador Cafu em apresentação oficial da taça da Copa de 2014

Dinâmica semelhante aconteceu com Dilma em 2014, defendem Carvalho e Zilberman. Ainda que a petista tenha vencido as eleições, a margem foi muito mais apertada do que mostravam pesquisas de opinião.

Isso porque o fracasso na Copa foi o golpe –ou impeachment– que faltava para amarrar as frustrações de quem já estava insatisfeito, de modo difuso, com a política e a economia.

Mas nada é mais concreto do que uma derrota por 7x1, na semifinal, jogando em casa, no país do futebol.

Por isso, a petista já entrou no segundo mandato com um cartão amarelo. Pouco depois, levou o segundo e foi expulsa do jogo.

1x7

E se Deus fosse top, como já disse Neymar em um celebrado tuíte antigo, e tivesse curado milagrosamente o jogador de sua lesão, liberando-o para jogar contra a Alemanha, invertendo o placar contra os europeus?

Nesse caso, é provável que o mercado financeiro teria antecipado um fortalecimento eleitoral da ex-presidente, diz Zilberman. Se a seleção tivesse levado a taça, a hipótese do pesquisador é que Dilma ganharia a eleição com uma vantagem maior.

Em um cenário mais realista, um placar menos humilhante –uma derrota por 2x1, por exemplo– teria diminuído em muito os efeitos da Copa sobre a disputa política, diz Zilberman. Não teria sido o choque que foi.

"Acho que a dramaticidade do fracasso, de alguma maneira, tirou o brasileiro da zona de conforto, o que pode ter desencadeado esses processos", afirma.


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