Folha de S. Paulo


Odebrecht movimentou US$ 3,3 bi em pagamentos ilícitos, diz delator

Pedro Ladeira/Folhapress
Hilberto Mascarenhas chega ao TSE, em Brasília; ex-executivo da Odebrecht será ouvido na ação que investiga a chapa Dilma-Temer
Ex-executivo da Odebrecht Hilberto Mascarenhas chega ao TSE, em Brasília

Ex-funcionário da Odebrecht, Hilberto Mascarenhas disse nesta segunda (6) ao ministro Herman Benjamin, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que um departamento da empresa movimentou cerca de US$ 3,39 bilhões entre 2006 e 2014 em pagamentos ilícitos.

Deste valor, entre 15% a 20% –ou seja, de US$ 500 milhões a US$ 680 milhões– foram destinados para financiar campanhas eleitorais no Brasil via caixa dois. O restante era usado para pagar propina, obras e serviços no exterior.

Mascarenhas era funcionário do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, apontado pelos investigadores da Operação Lava Jato como "departamento da propina" da empreiteira. Ele é um dos 78 delatores da empreiteira na operação e prestou depoimento na ação que corre no TSE e investiga a chapa presidencial de 2014.

Do total de delatores, 77 tiveram negociação conjunta coordenada pela Odebrecht. O 78º, Fernando Migliaccio, fechou acordo depois, mas que foi homologado em conjunto com os outros pela ministra Cármen Lúcia, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal).

Mascarenhas disse que a empreiteira corrompeu agentes públicos, em Angola e na América Latina. Ele detalhou os pagamentos feitos aos marqueteiros do PT Duda Mendonça e João Santana.

Mascarenhas disse que era basicamente um operador financeiro da empreiteira.

VALORES ANO ANO

Mascarenhas detalhou os valores movimentados ano a ano pelo departamento.

A quantia foi crescendo ao longo da segunda metade do governo de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, e só reduziram em 2014, depois de deflagrada a Lava Jato.

Segundo ele, passaram pelo departamento US$ 60 milhões em 2006; US$ 80 milhões em 2007; 120 milhões em 2008; US$ 260 milhões em 2009; US$ 420 milhões em 2010; 520 milhões em 2011; US$ 730 milhões em 2012; US$ 750 milhões em 2013; e US$ 450 milhões em 2014.

Pagamentos ano a ano - Em US$ milhões

O QUE DISSERAM OS DELATORES
Executivos da Odebrecht prestaram depoimento ao TSE

Marcelo Odebrecht
Ex-presidente e herdeiro do grupo, está preso desde junho de 2015

O que disse
Afirmou que discutiu em jantar com Michel Temer contribuição para a campanha de 2014, que seria destinada ao seu grupo político no PMDB; disse que era o 'otário do governo' do PT por assumir obras que não queria fazer

*Benedito Júnior
Ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, era um dos executivos mais próximos de Emilio e Marcelo Odebrecht

O que disse
Disse que a empreiteira doou R$ 9 milhões em caixa dois para campanhas do PSDB. O pedido foi feito por Aécio Neves, que em 2014 concorria à Presidência

Fernando Reis
Ex-presidente da Odebrecht Ambiental, era um dos executivos que estavam sendo preparados para assumir posição de destaque no grupo

O que disse
Disse que atuou na "compra" de apoio do PDT para a coligação Dilma-Temer. Ele relatou que a Odebrecht se comprometeu a dar apoio entre R$ 4 mi e R$ 7 mi

Alexandrino Alencar
Ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht. Era a pessoa dentro da empresa mais próxima do ex-presidente Lula

O que disse
Disse que o ex-ministro Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma (PT) em 2014, sugeriu que a empreiteira doasse R$ 30 milhões em caixa dois para comprar apoio de partidos

Cláudio Melo Filho
Ex-vice-presidente de relações institucionais. Atuava como lobista em Brasília, responsável por defender os interesses do grupo no Congresso

O que disse
Reafirmou que Temer pediu apoio da empreiteira ao partido durante as eleições de 2014. O relato também foi feito em sua delação premiada na Java Jato

Hilberto Mascarenhas
Responsável pelo setor de operações estruturadas, o departamento de propinas da empresa

O que disse
Disse que o setor movimentou US$ 3,39 bilhões entre 2006 e 2014 em pagamentos ilícitos. Deste valor, entre 15% a 20% foram destinados para financiar campanhas via caixa dois

*Segundo apuração da reportagem; os depoimentos estão em sigilo


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