Folha de S. Paulo


Calheiros e Barbalho receberam propina de operador, dizem delatores

Alan Marques/Folhapress
Renan Calheiros
Senador Renan Calheiros (PMDB-AL), citado em delação como beneficiário de repasses

Os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Jader Barbalho (PMDB-PA) são citados por delatores como alguns dos beneficiários dos repasses de propina feitos pelo operador e lobista Jorge Luz, alvo da Lava Jato nesta quinta-feira (23).

Os dois são mencionados por Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, e pelo operador Fernando Baiano, considerado um "pupilo" de Luz na estatal. Ambos negam as acusações.

Eles teriam dividido US$ 6 milhões, oriundos de um contrato de sondas da Petrobras, em troca do apoio do PMDB à permanência de Cerveró na diretoria Internacional, em 2006. Foi Luz –conhecido como "o operador do PMDB"– quem viabilizou os pagamentos, de acordo com o delator.

Para o lobista, a diretoria Internacional era "um bom filão" para arrecadar dinheiro para as campanhas eleitorais do PMDB, segundo relatou Cerveró.

O acordo foi articulado durante um jantar na casa de Barbalho em Brasília, em 2006, meses antes da eleição daquele ano. Renan estava presente, assim como Jorge Luz.

Após o segundo turno, os senadores voltaram a se reunir com Cerveró agradecendo o apoio –e, segundo o delator, dizendo que, "como ele havia feito a sua parte, caberia ao PMDB fazer a sua".

"Com esse discurso de agradecimento, teve certeza que o dinheiro havia chegado ao seu destino final", menciona a delação de Cerveró.

Além dos dois, também teriam recebido dinheiro o ex-senador Delcídio do Amaral, que na época fazia campanha para o governo de Mato Grosso do Sul, e o ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau (segundo depoimento de Fernando Baiano).

Os fatos que envolvem senadores ou outros políticos com foro privilegiado ficam sob investigação do STF (Supremo Tribunal Federal). Por isso, os parlamentares não foram alvos da operação desta quinta.

'PESSOAL DO PMDB'

Jorge Luz, que viajou para Miami em janeiro deste ano e está foragido, era conhecido por seu bom trânsito na Petrobras e já foi tratado por investigadores como "o operador dos operadores".

"Ele é muito bem entrosado, muito influente, conhecido de muita gente", relatou o empresário Milton Schahin, em depoimento ao juiz Sergio Moro. "Ele se dizia muito próximo de Renan Calheiros e Jader Barbalho", contou Baiano.

O operador se envolveu no pagamento de propina em diversos outros contratos da Petrobras, segundo as investigações, e distribuiu os valores ao "pessoal do PMDB", como afirmou Fernando Baiano.

Na venda de uma empresa pela Petrobras na Argentina, por exemplo, Baiano disse que Luz viabilizou o pagamento de pelo menos US$ 600 mil em propina, "operacionalizando os valores para o pessoal do PMDB".

O operador disse que nem sempre sabia para quem eram os pagamentos de Luz –mas que o lobista comentava que fazia remessas de dinheiro em Brasília via emissários, que iam buscar os valores em jatinhos fretados ou particulares.

OUTRO LADO

Por meio de nota, o advogado Gustavo Teixeira, que defende Jorge Luz e seu filho, Bruno Luz, afirmou que seus clientes "irão se apresentar no menor espaço de tempo possível para dar cumprimento aos mandados de prisão expedidos".

Segundo a defesa, pai e filho anteciparam os voos de regresso ao Brasil. O criminalista nega qualquer intenção de fuga dos investigados. "A defesa fez juntar aos autos do processo passagens áreas que demonstram que ambos, pai e filho, possuíam datas de regressos já agendadas, o que indica, a inexistência de qualquer intenção de se furtar à aplicação da lei penal, muito menos de se evadir do país em caráter definitivo, o que nos leva a concluir que não podem estar foragidos".

O comunicado diz ainda que "todos ao passos e movimentos dos peticionários eram de ciências das autoridades". Segundo Teixeira, em 4 de agosto de 2015 foi informado à Polícia Federal os motivos da viagem de Bruno Luz no exterior, indicando prazo de permanência e telefone a ser contatado.

Teixeira afirmou que ao longo "de alguns anos de investigações perante a Suprema Corte", Jorge e Bruno prestaram depoimentos em sede policial e que estão dispostos a colaborar com a justiça.

O senador Renan Calheiros disse, em nota divulgada nesta quinta (23), que "a chance de se encontrar qualquer irregularidade em suas contas pessoais ou eleitorais é igual a zero".

"O senador reitera ainda que todas as suas relações com empresas, diretores ou outros investigados não ultrapassaram os limites institucionais, embora conheça a pessoa mencionada no noticiário, não o vê há 25 anos", afirmou.

Jader Barbalho afirmou que "nunca teve" qualquer relacionamento com Jorge Luz. "Fui apresentado a ele, que tinha um pequeno contrato de consultoria com a Cosanpa (Companhia de Saneamento do Pará) de governos anteriores, no início do meu primeiro governo, acho que em 1983. De lá até a data de hoje nunca mais o vi, nem sei dele", disse, por meio de nota.

"Nunca recebi dele, muito menos do filho dele, nenhum dinheiro, nem contribuição partidária. Se ele usou meu nome para receber e distribuir dinheiro foi sem meu conhecimento ou trata-se de informação mentirosa", afirmou. Segundo Barbalho, se os dois já estiveram juntos em algum local "não o vi e nem tomei conhecimento da sua presença, porque nem me lembro da cara dele".

Ele também qualificou as falas de Cerveró como "mentiras" e disse que, em 2006, não era senador. "O Cerveró é um condenado a 19 anos por corrupção no escândalo do Petrolão, então eu compreendo o desespero dele em querer reduzir a sua pena e voltar para casa usando a argola, a tornozeleira".

"Se ele foi a algum jantar na minha casa, foi com algum convidado e entrou de penetra", afirma Barbalho. Ele diz que "jamais" conversou com ele ou outra pessoa sobre Petrolão.

A reportagem não conseguiu localizar o ex-ministro Silas Rondeau.


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