Folha de S. Paulo


Rota turística em Curitiba passeia por locais famosos da Lava Jato

Em frente à Justiça Federal do Paraná, a agente de turismo Carla Mazzetti, 53, acena para uma janela do segundo andar. É ali que, ficou sabendo, trabalha o juiz Sergio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato.

"Eu sou fã", diz ela, uma das cinco turistas que passaram a manhã num "tour da Lava Jato" —que inclui, além do fórum, paradas na sede da Polícia Federal, no prédio do Ministério Público e até na carceragem do Complexo Médico Penal.

O passeio foi criado por uma agência de Curitiba, que cansou de ouvir pedidos para "conhecer o Moro" e "ir aonde estão os presos" da maior operação de combate à corrupção do país.

"Eu estava com muito medo", lembra a empresária Bibiana Antoniacomi, que lançou o tour em maio do ano passado. "O país estava dividido. Mas é um trabalho sério; é informativo. Não fazemos julgamento."

Cerca de cem pessoas já participaram do percurso –a maioria, turistas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. "99% delas", conta, são a favor da Lava Jato.

"Mas uma vez fui falar do tour para uma senhora e ela virou a cara", lembra a guia de turismo Vivian Flügel. "É assim mesmo. Religião e política a gente não discute."

A guia conduz o passeio, que dura quatro horas, com a ajuda de ilustrações plastificadas. São fotos dos procuradores que coordenam a operação, um infográfico que explica o esquema e até croquis das celas da Polícia Federal e do Complexo Médico Penal, onde estão os detidos pela Lava Jato.

"A proposta não é explicar o que é a Lava Jato, porque todo mundo está cansado de saber", diz Flügel, dentro da van que transporta o grupo. Em vez disso, ela faz uma breve explanação sobre o começo da operação e responde a algumas dúvidas sobre quantas fases já foram e por que parte do processo corre em Brasília e outra, em Curitiba.

Em seguida, desfia curiosidades sobre o currículo e a vida de Sergio Moro –qualificado por ela como "muito discreto, extremamente calmo e muito capacitado".

"Os filhos, pelo que se sabe no momento, não estão estudando no Brasil; estão nos Estados Unidos", comenta. Um turista pergunta: "Por causa de ameaça?".

A guia afirma que o juiz tem "vários seguranças". "Não sei se é verdade isso, mas seriam inclusive do Exército, das Forças Armadas. Mas isso é especulação."

Ela pede desculpas pelo excesso de informações sobre o magistrado. "É que ele virou praticamente um herói nacional. Muita gente pergunta dele."

Nas seis paradas ao longo do passeio, a entrada só é permitida no Museu Oscar Niemeyer, onde estão parte das obras de arte apreendidas na operação. Nenhum turista (ainda) teve a sorte de encontrar Moro entrando ou saindo do prédio da Justiça Federal –nem algum procurador ou delegado.

'MOMENTO HISTÓRICO'

Os cinco que faziam o tour na semana passada, todos do Paraná, apoiavam a investigação. A maioria dizia querer aprender mais sobre a Lava Jato, eventualmente sobre algum bastidor, e refletir sobre sua importância.

"Não é um tour apenas contemplativo. Ele faz a gente pensar", diz o professor Adriano Stadler, 40. "É um momento histórico."

A professora curitibana Célia Milek, 60, carregava um bloquinho para anotar as principais observações. "Muita gente vem me perguntar. Eu quero passar a informação para a frente."

Uma turista, porém, demonstrava algum ceticismo. "Não existe almoço grátis", diz a economista Zélia Halicki, 50. "Eu admiro muito o trabalho da equipe. Mas não idolatro ninguém. Todo mundo tem um interesse."

O passeio custa R$ 195. Ao final, um chaveiro com o desenho de uma algema e a inscrição "Operação Lava Jato" é dado como lembrança aos turistas –junto com um chocolate em formato de pinhão.

AS ATRAÇÕES DO PASSEIO

Ministério Público Federal
Local onde trabalham os procuradores da força-tarefa

Prédio da UFPR
O juiz Sergio Moro dava aulas no curso de direito até o final do ano passado

Museu Oscar Niemeyer
Abriga uma exposição com 42 obras apreendidas na Lava Jato

Justiça Federal do Paraná
Local de trabalho do juiz Sergio Moro

Polícia Federal
Sede das investigações policiais e de uma carceragem para onde vão os presos provisórios

Complexo Médico Penal
Uma ala abriga presos mais antigos da Lava Jato


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