Folha de S. Paulo


Ex-diretor da Petrobras relata propina a ministro do TCU

O ex-diretor da Petrobras Renato Duque, preso em Curitiba, disse na negociação de sua delação premiada na Lava Jato que Augusto Nardes, ministro do TCU (Tribunal de Contas da União), recebeu R$ 1 milhão entre 2011 e 2012 para não criar empecilhos em procedimentos contratuais de uma plataforma.

Em anexo que integra a proposta de acordo, Duque relata, segundo a Folha apurou com pessoas ligadas à investigação, que se reuniu com Nardes em um jantar na casa do ministro para acertar o pagamento. No encontro, chegaram ao montante de R$ 1 milhão, que corresponderia a um percentual do contrato.

Os valores, segundo o ex-diretor da Petrobras, foram repassados por Pedro Barusco, na época gerente de Serviços da estatal e braço direito de Duque.

O dinheiro teria sido direcionado a uma pessoa ligada a Nardes responsável por repassar a ele o valor, segundo o ex-dirigente da Petrobras.

Essa não é a primeira vez que o ministro do TCU é alvo de uma delação premiada.

Como a Folha revelou em março de 2016, o ex-deputado Pedro Corrêa que, entre 2003 e 2005, quando Nardes era deputado pelo PP, ele estava entre os nomes que recebiam propina da Petrobras.

Em 2005, quando Nardes foi nomeado para o TCU, foi destruído um recibo que comprovava o pagamento da propina para não "prejudicar sua nomeação", segundo Corrêa.

Esta é pelo menos a terceira vez que Duque tenta fazer um acordo de delação.

Desde o ano passado, as negociações passaram a ser conduzidas por Figueiredo Basto, Adriano Bretas e Tracy Reinaldet, que juntos são os advogados que mais fecharam delações na Lava Jato, cerca de 20.

As negociações avançaram até a assinatura do termo de confidencialidade, mas o acordo parou na proposta de pena de cinco anos de prisão.

Com novas delações como a da Odebrecht, integrantes da força-tarefa ouvidos pela Folha afirmam que o interesse em eventual negociação com Duque se perdeu mais uma vez. Os motivos são diversos, como informações insuficientes ou impossíveis de serem comprovadas.

Condenado em três ações, as penas de Duque já somam 51 anos.

OUTRO LADO

Procurado pela reportagem, o ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Augusto Nardes afirmou que não procedem as informações da negociação do ex-diretor da Petrobras Renato Duque.

"Nunca recebi o Duque em minha casa", disse ele sobre o suposto encontro com o executivo para tratar de pagamento ilícito.

"O condenei em processos do TCU. Deve ser vingança", concluiu o ministro.


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