Folha de S. Paulo


Tentativa de apressar delação da Odebrecht incomoda governo

Eduardo Anizelli/Folhapress
Sao Paulo,SP,Brasil 29.01.2017 Cerimonia do Dia Internacional em Memoria das Vitimas do Holocausto com a presenca do Presidente Michel Temer. Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress cod1656 ****EXCLUSIVO FOLHA/MONICA BERGAMO****
O presidente Michel Temer participa de ato em memória do Holocausto, em SP

A expectativa de que a presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Cármen Lúcia, homologue até terça-feira (31) a delação premiada dos 77 executivos da Odebrecht incomodou aliados do presidente Michel Temer.

Pessoas próximas ao presidente enxergam na "pressa" da ministra mais um sintoma de que ela busca proeminência para se firmar como líder nacional. Integrantes do governo afirmam ainda que Cármen Lúcia, agindo dessa forma, busca criar um fato "político", ampliando a ansiedade sobre o tema.

Entre integrantes do governo, a leitura é que a presidente do STF acabará dando ares ainda maiores de excepcionalidade ao episódio caso de fato chame para si a responsabilidade da homologação antes do retorno oficial dos trabalhos do Judiciário, que está em recesso. O Supremo volta ao ritmo normal no dia 1º.

A homologação é a última etapa para que o acordo seja validado juridicamente. O acordo de colaboração premiada da Odebrecht caiu nas mãos da presidente do Supremo após a morte de seu colega Teori Zavascki, em um acidente aéreo no dia 19. Ele era o relator da Operação Lava Jato na Corte.

A expectativa era a de que Teori homologasse a delação em fevereiro. Um novo relator para o caso no Supremo deve ser escolhido por sorteio.

IMPACTO
A delação da Odebrecht é apontada como a mais importante da Lava Jato. Foram mencionados até agora nas negociações nomes do governo Temer, incluindo o próprio presidente, além dos ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, os tucanos José Serra e Geraldo Alckmin e parlamentares. Todos negam irregularidades.

Cármen Lúcia passou o sábado (28) em seu gabinete em Brasília estudando o material da delação. Não se sabe se, além de homologar a documentação, a presidente do STF também decidirá levantar o sigilo dos depoimentos prestados pelos executivos da empreiteira, tonando público o conteúdo dessas falas.

Com relação a isso, aliados de Temer decidiram adotar um tom pragmático. Dizem que a avalanche de revelações viria à tona, cedo ou tarde, e que não há o que fazer quanto a isso.

Entre advogados e políticos, a expectativa é que a delação da Odebrecht amplie substancialmente o alcance da Lava Jato.

Integrantes do Congresso e do governo já dão como certo o fato de que esse acordo trará uma série de implicações.


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