Folha de S. Paulo


Filho de Teori diz que recebia ameaças por telefone

Bruno Poletti - 25.fev.2015/Folhapress
O advogado Francisco Zavascki
O advogado Francisco Zavascki, filho do ministro do Supremo Tribunal Federal

Por causa da "gravidade das coisas" e das "pessoas envolvidas" nas delações da Lava Jato, o ministro Teori Zavascki, 68, andava preocupado. É o que contou à Folha o seu filho mais novo, o advogado Francisco Zavascki, 37.

Teori estava prestes a homologar as 77 delações da Odebrecht, o maior acordo de colaboração da Lava Jato, quando morreu em um acidente de avião na última quinta-feira (19).

As revelações de funcionários da construtora envolvem figuras importantes da política nacional, de diversos partidos. O presidente Michel Temer (PMDB) foi citado 43 vezes no relato já divulgado de Cláudio Melo Filho, ex-vice-presidente de Relações Institucionais da empreiteira.

Antes da queda do avião de Teori, a família já temia pela segurança porque ameaças não eram raras, especialmente para os familiares do ministro.

"Era uma coisa que realmente preocupava a gente e ele [Teori] também", disse Francisco. Leia trechos da entrevista concedida nesta sexta-feira (20).

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Folha - Seu pai demonstrava estar muito envolvido com o trabalho, por causa da delação da Odebrecht?
Francisco Zavascki - Ele tirou uns dias de férias em que se propôs a não falar de trabalho. Agora já tinha dado por encerradas férias e já estava com a cabeça no trabalho, já estava preparando a homologação.

Ele estava preocupado com o resultado? Estava confiante?
O que ele me comentou é que estava muito preocupado pela gravidade das coisas que ele tinha tido conhecimento nas delações e pelas pessoas envolvidas.

Ele citava nomes ou te contava detalhes?
Não. Ele sempre foi muito reservado e eu sempre fiz questão de não querer saber muito para quando me perguntassem, eu não precisasse mentir. Eu não sabia mesmo.

Circulou na internet um comentário seu postado em uma rede social dizendo que "se algo acontecesse a sua família vocês já sabem onde procurar". Seu pai comentou sobre receber ameaças nesse período?
A gente teve várias coisas assim [ameaças], como mensagem por rede social, e-mail, telefone e tal. De receber ligação, de tudo.

As ameaças eram diretamente para seu pai ou para a família?
Pra gente era mais, especialmente. É muito chato. Era uma coisa que realmente preocupava a gente e ele também, pelos interesses todos envolvidos [na Lava Jato]. A gente ficou bastante preocupado.

Em 2016, um grupo ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL) colocou faixas no prédio do seu pai, chamando-o de traidor, e bateram panelas enquanto o chamavam de "bolivariano". Ele ficou abalado?
Não. Mas a gente ficou preocupado de alguém fazer uma bobagem. Sobre o protesto em si, quer protestar, protesta. Mas as pessoas não entenderam naquele momento o que é que estava sendo realmente decidido [Teori determinou que o juiz Sergio Moro enviasse ao STF as investigações da Lava Jato que envolviam o ex-presidente Lula]. O protesto em si não teve problema. O medo era de alguém fazer justiça com as próprias mãos, né.

Sobre o acidente, o que você acha que aconteceu?
[Suspiro] Não tenho nenhum dado para dizer que não foi acidente. Tem que ser investigado, muito seriamente, mesmo. A família está convocando todo mundo a acompanhar, especialmente vocês da imprensa que tem um papel fundamental que tem sido exercido ao longo desse período. Convocando todas as instituições que puderem colaborar para que não se tenha dúvidas sobre o que aconteceu, seja lá o que aconteceu. A gente não tem "acho isso ou aquilo". Até porque seria leviano a gente começar a dizer uma coisa ou outra nesse momento.

Como seu pai usava o tempo livre em Porto Alegre?
Ele encontrava os amigos. Geralmente, no sábado, tinha almoço com os filhos e netos. Aproveitava para sair do circuito de Brasília quando vinha para cá, dava uma "desligada" e conseguia ficar mais quieto. Também tinha a confraria dos amigos dele, se encontravam em uma churrascaria. A confraria é composta por boa parte da "velha guarda" dele aqui de Porto Alegre, do tempo da faculdade. Tudo gente jovem de cabelo branco [risos].

Como era a convivência dele com os netos?
Ele adorava. Fazia muito brincadeira com eles, ficavam brincando. No período da praia [antes do acidente], ia para a praia com eles. Estavam em Xangri-lá [litoral norte gaúcho]. Até no WhatsApp [escrevia]: "vamos para a praia, vamos para a piscina!". Estavam sempre juntos. Ele era muito presente, procurava estar junto.


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