Folha de S. Paulo


Doleiro teve acesso a documentação de empresa para a Caixa

Lula Marques - 28.abr.2010/Folhapress
O corretor de valores Lúcio Bolonha Funaro, em depoimento a CPI, em 2010
O corretor de valores Lúcio Bolonha Funaro, em depoimento a CPI, em 2010

O papel do doleiro Lúcio Bolonha Funaro no esquema de liberação de créditos milionários da Caixa Econômica Federal para grandes empresas mediante pagamento de propina, revelado na sexta (13) pela Operação Cui Bono?, ia muito além da função de receber e distribuir suborno.

Mensagens de texto do celular do ex-vice-presidente da Caixa Fábio Cleto, que constam de relatório da Polícia Federal, mostram que o operador, ligado ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, recebeu cópia da documentação que ao menos uma empresa enviou ao banco para obter a aprovação do crédito.

Isso aconteceu para que Funaro pudesse acompanhar a tramitação do pedido de financiamento dentro da Caixa e assim cobrar de Cleto a celeridade do processo. Funaro foi preso pela Lava Jato em julho do ano passado.

O caso aconteceu durante a operação para que a empresa BRVias conseguisse um financiamento de R$ 300 milhões da Caixa.

Além de Funaro e Cleto, estavam envolvidos na operação Cunha e o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) –que em 2012, época em que ocorriam as negociações, era vice-presidente de pessoa jurídica da Caixa.

Geddel foi alvo de busca e apreensão pela PF no dia da deflagração da operação. A BRVias pertence à família Constantino, controladora da Gol Linhas Aéreas.

Em 11 de junho de 2012, às 20h48, Funaro mandou mensagem ao celular de Cleto.

"Recebi um e-mail aqui da BRVias com todos os documentos já entregues lá [na Caixa] com exceção de um que foi anexado ao protocolo de entrega que eles vão entregar amanhã porque os cartórios no RJ só abriram hoje. Qual o prazo agora para estar na conta deles o dh [dinheiro] disponível para saque?"

Cleto responde um minuto depois. "To checando com a outra área. O dinheiro aqui já saiu há uma semana".

A conversa continua com Funaro dizendo que Henrique, que segundo a PF é Henrique Constantino, acionista da BRVias, vai enviar também a Cleto os documentos e faz uma pergunta. "Você consegue liberar isso amanhã?".

Cleto então confirma o recebimento dos documentos da BRVias enviados por Constantino. "Recebi. Vou passar agora para o Marcos e discutir mais uma vez".

Marcos, segundo a PF, é Marcos Vasconcelos, então vice-presidente de gestão de ativos de terceiros da Caixa. No mesmo dia 11, Cleto envia mensagem para o celular de Cunha dizendo que está difícil de "arrancar" um cronograma, mas que no dia seguinte cobrará Vasconcelos.

Em 14 de junho o financiamento é liberado. Cleto, então, manda mensagens idênticas para os celulares de Funaro e Cunha avisando sobre o sucesso da operação. "Br. Vias: valor integral foi creditado hoje para o cliente".

OUTRO LADO

A Caixa declarou que está em contato com as autoridades colaborando com as investigações.

A BRVias, em nota, afirma que segue colaborando com as autoridades para o total esclarecimento dos fatos.

A defesa de Funaro não conseguiu contato com o cliente e por isso não vai comentar.


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