Folha de S. Paulo


Geddel recebia propina em esquema da Caixa Econômica Federal, diz PF

Alan Marques - 22.nov.2016/Folhapress

A Polícia Federal deflagrou nesta sexta-feira (13) uma operação que teve como principal alvo o ex-ministro Geddel Vieira Lima por sua gestão à frente da vice-presidência de pessoa jurídica na Caixa Econômica Federal, entre 2011 e 2013, no governo de Dilma Rousseff.

A PF aponta envolvimento de Geddel em esquema de fraudes na liberação de empréstimos do FI-FGTS e da Caixa. Há indícios de crime de corrupção passiva.

Batizada de Operação Cui Bono? ("A quem beneficia?", em latim), a investigação começou a partir de elementos colhidos em um antigo celular do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso na Lava Jato.

O esquema, segundo relatório de investigação, tinha "como destinação o beneficiamento pessoal deles ou do PMDB". Em 15 de dezembro de 2015 a PF realizou buscas na casa de Cunha e apreendeu o telefone no qual estavam armazenadas mensagens trocadas com Geddel.

Nesta sexta, a polícia esteve em sete endereços residenciais e comerciais no Distrito Federal, Bahia, Paraná e São Paulo. A casa de Geddel em Salvador foi alvo.

Geddel atuava em conjunto com Cunha em "negociações ilícitas" e agia de "forma orquestrada" para beneficiar empresas em troca de propina, dizem os investigadores. O ex-ministro também "fornecia informações privilegiadas para os outros membros da quadrilha que integrava".

Sobre as mensagens, os investigadores afirmam que "os diálogos não deixam dúvidas" de que Geddel e Cunha buscavam "contrapartidas indevidas" junto às diversas empresas. "Visando à liberação de créditos que estavam sob a gestão da vice-presidência de Geddel", destacam.

Também fazem parte do esquema, segundo a investigação, o doleiro e operador do mercado Lúcio Bolonha Funaro, hoje preso pela Lava Jato, e o ex-­vice­-presidente da Caixa Fabio Cleto, que firmou acordo de delação premiada. Informações da delação de Cleto foram confrontadas com o conteúdo do celular de Cunha.

Nos diálogos, são citados empresas e dirigentes de empresas dos ramos de alimentos (como Seara, Marfrig e J&F) e de concessionárias de administração de rodovias (como a BRVias). Os investigadores suspeitam que o grupo tenha praticado crimes de corrupção, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.

Em uma das conversas, ao falar do andamento do pedido de financiamento para a J&F, Geddel diz que a situação está resolvida e afirma a Cunha: "Você tá pensando que eu sou esses ministros que você indicou?".
Ambos discutiram, por exemplo, as condições das taxas de juros para um empréstimo da Caixa à BRVias (concessionária de administração de rodovias) em 2012, no valor de R$ 300 milhões.

Posteriormente, a empresa obteve financiamento do FI-FGTS, fundo que tinha em seu conselho Cleto, vice-presidente do banco ligado a Cunha.

Investigadores destacam um diálogo que revelaria o controle de Cunha sobre a Caixa. Questionado por Geddel, "Então posso liberar?", Cunha responde: "Pode".

"A hipótese produzida é que a autorização de Eduardo Cunha para a liberação dos créditos ocorre após o pagamento da contrapartida dos interessados, motivo esse que explicaria o fato de Geddel aguardar a confirmação de Eduardo Cunha, responsável pelo contato direto com as empresas juntamente com Lúcio Funaro."

PERDA DE FORO

Geddel foi nomeado para a vice-presidência da Caixa em 7 de abril de 2011, um dia após a nomeação de Cleto. Para os investigadores, não foi coincidência, mas sim uma estratégia de Cunha para orquestrar o esquema.

Geddel assumiu a Secretaria de Governo em maio. Caiu em novembro ser acusado pelo ex­-ministro da Cultura Marcelo Calero, em entrevista à Folha, de fazer pressão para rever decisão do Iphan (instituto do patrimônio histórico) sobre prédio onde adquiriu apartamento.

A investigação ligada à Caixa corria no Supremo, mas passou a tramitar na primeira instância depois de Geddel deixar o cargo de ministro.


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