Folha de S. Paulo


Temer é recebido com protestos no RS e confunde real com cruzeiro

Paula Sperb/Folhapress
Manifestantes barrados do evento em um dos portões do Parque Assis Brasil, em Esteio
Manifestantes barrados do evento em um dos portões do Parque Assis Brasil, em Esteio

O presidente Michel Temer (PMDB) foi recebido com protesto na sua primeira visita ao Rio Grande do Sul desde que assumiu a Presidência, na manhã desta segunda-feira (9).

Cerca de 150 pessoas protestavam contra Temer e o governador José Ivo Sartori (PMDB), do lado de fora do Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, na região metropolitana de Porto Alegre, e foram afastadas com gás lacrimogêneo pela Brigada Militar (a PM gaúcha).

A rodovia BR-116 chegou a ser bloqueada pelos manifestantes em duas ocasiões e foi liberada em seguida.

Assim como na visita a cidades do Nordeste, em dezembro, o evento gaúcho foi fechado para o público . Além disso, o palco onde Temer discursou foi montado a cerca de um quilômetro de distância do portão de entrada do local.

O presidente foi recebido apenas por convidados oficiais, como os secretários de Sartori e prefeitos beneficiados pela entrega de 61 ambulâncias novas para o Samu.

ELOGIOS E GAFE

Em discurso, Temer se confundiu e citou o cruzeiro como se ainda fosse a moeda vigente no país.

Ao falar do ministro da Saúde, Ricardo Barros, Temer disse: "Em pouquíssimo tempo [de governo], ele anunciou a economia de 800 milhões de cruzeiros, que significam novas UPAS, novas UBSs e também novas ambulâncias."

O cruzeiro deixou de ser a moeda brasileira em 1993, quando foi substituída pelo cruzeiro real.

O peemedebista também trocou elogios com os demais ministros presentes: Eliseu Padilha (PMDB), da Casa Civil, Osmar Terra (PMDB), do Desenvolvimento Social, Ronaldo Nogueira (PTB), do Trabalho, que são gaúchos.

O governador Sartori, que também foi alvo do protesto, discursou mensagens de incentivo ao presidente. Segundo o Datafolha, 51% dos brasileiros acham a gestão de Temer ruim ou péssima e 63% são favoráveis a sua renúncia. A pesquisa foi feita em dezembro passado, antes de o presidente ser citado 43 vezes em delação da Lava Jato.

Sartori parafraseou o publicitário Nizan Guanaes, conselheiro de Temer: "Quero lhe dizer de coração... [confundindo a citação] nunca se preocupe com a impopularidade. Nós todos temos que fazer o que precisa ser feito nesse momento histórico."

"Experiência não lhe falta, coragem tens de sobra", disse Sartori.

O governador gaúcho agradeceu os esforços federais para a renegociação da dívida do Estado com a União. Sartori tem atrasado os salários dos funcionários estaduais há 11 meses consecutivos por causa da crise das contas gaúchas.

Antes de desembarcar em Esteio, Temer sobrevoou áreas atingidas pelas chuvas no interior do Estado.

Temer destacou a aprovação do teto de gastos públicos e o encaminhamento das reformas da Previdência, trabalho e do ensino médio.

"Outras reformas virão", prometeu, citando a reforma tributária. Ele também anunciou que o governo vai construir uma presídio federal no Rio Grande do Sul.

PROTESTO E GÁS LACRIMOGÊNEO

Por volta das 9h30, os manifestantes tentaram entrar no parque e foram impedidos por policias militares, que lançaram gás lacrimogêneo.

O tenente-coronel José Nilo Corrêa disse à Folha que o gás lacrimogêneo foi usado porque os manifestantes jogaram pedras e usaram cabos de suas bandeiras para empurrar os policiais. De acordo com o comandante, cerca de cem militares protegiam os arredores do parque desde o início da manhã.

Os manifestantes, a maioria professores estaduais ligado ao Cpers, o sindicato da categoria, são contra o pacote de austeridade de Sartori e Temer.

"O governo é ilegítimo e tenta acabar com os direitos dos trabalhadores. Estou lutando pelo direito de ter direito", disse o professor Lucas Berton, 33, à reportagem sobre a reforma trabalhista e o congelamento de gastos públicos, propostos por Temer.


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