Folha de S. Paulo


'Congresso virou a Geni', diz Gustavo Fruet, prefeito de Curitiba

Divulgação - out.2012
Gustavo Fruet, Gustavo Bonato Fruet, PDT, candidato a prefeitura de Curitiba. credito divulgacao especial poder eleicoes 2012
Gustavo Fruet (PDT), prefeito de Curitiba derrotado nas eleições deste ano

Prefeito de Curitiba derrotado na última eleição, Gustavo Fruet (PDT) criticou em entrevista à Folha a criminalização da política e disse que "o Congresso virou a Geni".

Para o ex-deputado federal, que já foi do PSDB e integrou a CPI que investigou o mensalão, o fato de o Congresso ter perdido o protagonismo "é perigoso para a democracia" e tensiona debates necessários ao país.

Alvo de críticas por ter feito poucas obras, Fruet ficou de fora do segundo turno e atribuiu sua derrota também à "insatisfação sem precedentes" da população.

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Folha - O que o levou a perder a eleição em Curitiba?

Gustavo Fruet - São vários fatores. Alguns locais, outros não. A crise econômica, por exemplo, afetou o humor da população. Há uma compreensível insatisfação. Mas isso levou ao grande problema da política brasileira: criminalizou e generalizou a política.

Há um grau de intolerância sem precedentes e transferência de expectativas e de legitimidade para outras instituições: a Polícia Federal, o Ministério Público e o Judiciário.

O teto de gastos públicos pode ajudar nesse cenário?

Não, porque é conjuntural. Se a PEC estabelece um limite, para onde vai a pressão? Para a prefeitura. Adianta explicar que tem uma PEC que estabelece um limite de gastos?

Se o sr. fosse deputado, então, votaria contra a PEC?

Não, é preciso haver ajustes. O problema é que a gente não está fazendo política no Brasil. A gente está discutindo cada vez mais a nova fase da operação, quem vai ser preso... O Congresso virou a Geni, a instituição maldosa. E, do outro lado do pêndulo, não há questionamento.

Quem é o outro lado do pêndulo? O Ministério Público?

Várias instituições. Elas fazem um papel importante. Mas hoje é muito difícil qualquer questionamento a elas. Porque se desgastou profundamente a política.

O impacto disso para a democracia é muito ruim. O Congresso está perdendo força no diálogo com a sociedade. De todos os poderes, o Congresso é o mais representativo. É um dos poucos lugares onde a minoria se expressa.

O quanto a Lava Jato pesou?

Ela contribui para esse sentimento de insatisfação. Mas foi um processo; a crise da política não é de hoje. Como sair disso? Aí é que há espaço para o discurso fácil. É uma ilusão pensar que a política vai ser feita só com escoteiro, freira e pastor. Não dá para imaginar que a gente vai santificar a política.

O protagonismo das outras instituições é perigoso?

Não é perigoso. Mas vai ocupando uma lacuna. Eu insisto, não é questionamento ao trabalho dessas instituições. Mas são tempos diferentes. Veja o exemplo do debate da anistia [ao caixa dois]. Olhe o bombardeio. Os três presidentes, num domingo, tiveram que dar entrevista para dizer que não iriam aceitar a anistia. O Congresso vai ficando muito mais na defensiva do que na iniciativa. Isso não é bom para a vida política.

Mas diante dos casos de corrupção revelados na Lava Jato, não era natural que isso acontecesse? Não há motivos para o descrédito?

Sim, claro. O que me preocupa é a generalização. Eu vejo pessoas vocacionadas se afastando da vida pública. Há um distanciamento e falta de sintonia com boa parte da sociedade. É um desafio romper essa lógica do bem contra o mal. E essas votações [como a das dez medidas e anistia ao caixa dois] reforçam o distanciamento.

Qual será seu futuro político?

Ainda não sei. Nos três primeiros meses, vou ficar quieto. Vai ser um período pessoal de oxigenação. Eu gosto de política, faço com paixão, mas é um momento de profunda reavaliação. Daqui a um ano, eu avalio.


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