Folha de S. Paulo


Livro de advogados de Lula reúne artigos em defesa do ex-presidente

Reprodução - 4.mar.2016
Imagem da condução coercitiva de Lula, em março, divulgada pela defesa
Imagem da condução coercitiva de Lula, em março, divulgada pela defesa

Lançado na semana passada por advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e especialistas em direito, o livro "O Caso Lula - a luta pela afirmação dos direitos fundamentais no Brasil" (Contracorrente; Editoral Astrea) desenrola-se em torno de três episódios centrais.

A condução coercitiva do petista, em março, decretada pelo juiz Sergio Moro; a interceptação de uma conversa entre Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff, também autorizada por Moro e divulgada por ele; e a apresentação em "powerpoint" em que procuradores de Curitiba acusaram o ex-presidente de chefiar um esquema criminoso.

São 18 artigos, de 22 autores, entre advogados, acadêmicos e membros do Ministério Público e do Judiciário, que, reunidos, fazem parte da estratégia da defesa de Lula de levar ao Comitê de Direitos Humanos da ONU a reclamação de que ele não está tendo um julgamento imparcial no país.

Como sugere o título, a obra toma o caso de Lula para denunciar o que é apresentado como um perigo geral: a Lava Jato "está sendo conduzida de forma a violar os direitos humanos de seus alvos e, em particular, os de Lula", diz o advogado britânico Geoffrey Robertson, contratado para atuar junto à ONU.

Ou, como formulam na apresentação os coordenadores do livro, Cristiano e Valeska Teixeira Martins e Rafael Valim: "Não se trata de uma disputa ideológica entre esquerda e direita. Em rigor, estamos diante da imemorial batalha entre a civilização e a barbárie. É o país, e não apenas Lula, que precisa de mais Justiça e menos espetáculo e perseguição".

O primeiro artigo, de Lenio Luiz Streck, ex-procurador de Justiça do Rio Grande do Sul, traz a ideia, em uma perspectiva histórica, de que o direito, enquanto disciplina técnica e com critérios objetivos, não pode ser confundido com a moral, sob pena de que agentes "predestinados" e "iluminados" possam surgir como salvadores da pátria, em detrimento das próprias leis.

O juiz Moro, citado nominalmente ou indiretamente no decorrer de todo o livro, é o alvo principal dos textos.

Há autores que tecem duras críticas à atuação da imprensa. Nilo Batista, que chegou a advogar para Lula, escreve que, em países desenvolvidos, a liberdade de imprensa geralmente é colocada acima do direito à privacidade, mas abaixo do direito à presunção de inocência.

Ele cita casos em que o noticiário levou à anulação de sentenças condenatórias nos Estados Unidos e leis de países europeus que proíbem a divulgação de partes sigilosas de processos. Não defende que se faça o mesmo no Brasil, mas pede mais espaço para a defesa nas reportagens.

"Já que o processo [aqui] se desenrola na mídia, que haja pelo menos paridade de armas. A prática atual é abertamente antidemocrática."

O texto de Batista é um dos que mais se aprofundam no mérito das acusações contra Lula. Ali estão os principais argumentos da defesa em relação ao tríplex de Guarujá (SP) e ao sítio de Atibaia (SP).

Também no contexto de crítica à imprensa, o jurista Celso Antônio Bandeira de Mello aborda a influência do noticiário sobre as decisões dos magistrados.


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