Folha de S. Paulo


Delação de Claudio Melo Filho antecipa outros relatos da Odebrecht

A delação do ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Claudio Melo Filho antecipa pontos das delações de outros executivos em pelo menos quatro supostos casos de pagamentos a políticos.

Esses pagamentos poderão ser detalhados, segundo o ex-diretor, em outros depoimentos. Ao todo, 77 funcionários da companhia fecharam acordo de delação, incluindo o herdeiro e ex-presidente, Marcelo Odebrecht.

Um caso é a acusação de que o atual líder do governo no Congresso, Romero Jucá (PMDB-RR), recebeu R$ 6 milhões no ano de 2010.

Segundo o delator, quem operou o pagamento foi Henrique Valladares, responsável pela Odebrecht Energia, que tinha entre seus maiores objetivos a construção da usina hidrelétrica Santo Antônio, no rio Madeira, em Rondônia.

Construída com recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), a usina começou a ser erguida em 2008 e entrou em operação em 2012. Em 2008, o banco anunciou um empréstimo de R$ 6,1 bilhões para a obra.

"Esclareço que fui informado por Henrique Valladares que ele havia feito um acerto financeiro relativo ao contrato de Santo Antônio que contemplava pagamento ao senador Romero Jucá, no valor de R$ 6 milhões. Henrique solicitou a mim e a José Carvalho Filho que quando houvesse pagamentos, comunicássemos ao senador", disse Melo.

Ele não esclarece o motivo do suposto acerto feito entre Odebrecht e Jucá em torno da usina. Porém, em outro trecho da delação, explica que a Odebrecht buscou o apoio de parlamentares para matérias que tramitavam no Congresso e eram de interesse do braço energético da Odebrecht.

Melo atribui novamente a Valladares a responsabilidade pelo suposto pagamento de R$ 7 milhões ao ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O delator disse que Valladares, "que tinha relação próxima" com Cunha, "já havia combinado" que o parlamentar "daria apoio a ele e à equipe dele na defesa de interesses da área de energia" da Odebrecht durante uma audiência pública na Comissão de Minas e Energia da Câmara, que teria ocorrido entre 2007 e 2008, e cujo tema era a construção de usinas hidrelétricas no rio Madeira.

"Recordo-me de que Valladares também me solicitou que transmitisse informações de pagamentos a este parlamentar que eram de compromissos dele, relativos a área de energia", contou Melo.

Um terceiro caso que poderá ser esclarecido por outro delator da Odebrecht, segundo Melo, diz respeito ao pagamento de R$ 1 milhão ao senador José Agripino Maia (DEM-RN), identificado pelos codinomes "Pino" e "Gripado". Segundo Melo, o acerto para o pagamento foi feito entre o senador Aécio Neves (PSDB-MG), identificado como "Mineirinho", e o dono da construtora, Marcelo Odebrecht.

Melo afirmou que Aécio teria pedido que o dinheiro fosse entregue a Maia "como uma forma de apoio ao DEM, que era presidido à época" pelo senador do Rio Grande do Norte. Os recursos não foram para Maia, que não era candidato naquele ano, mas para o DEM, segundo o delator. Em 2014, Aécio foi candidato a presidente da República com apoio do DEM.

Melo também descreveu um quarto caso de pagamentos sob suspeita que poderia ser detalhado por outras pessoas da Odebrecht. O delator revelou que Anderson Dornelles, um dos mais fiéis colaboradores da presidente Dilma Rousseff e ex-assessor especial da Presidência, recebeu pelo menos R$ 350 mil sob o codinome "Las Vegas".

Melo disse que os pagamentos foram acertados após uma reunião entre ele, Dornelles e Marcelo Odebrecht no escritório da companhia em Brasília em meados de 2012.

"Posteriormente à reunião, Marcelo me comunicou que recebeu um pedido de apoio financeiro a Anderson, autorizando que se realizassem pagamentos de R$ 50 mil em seu benefício", contou Melo no acordo de delação.

OUTRO LADO

Na sexta-feira (9), o senador Romero Jucá disse em nota desconhecer a delação, negou ter recebido recursos para o PMDB e afirmou que todos os recursos dados pela empresa ao partido foram legais.

O advogado de Eduardo Cunha, Pedro Ivo Velloso, disse que a defesa do parlamentar não teve conhecimento oficial do depoimento e "refuta veementemente qualquer suspeita relacionada ao tema em questão e ressalta sua incredulidade em relação às supostas menções".

O senador José Agripino disse que não foi candidato em 2014 e que repele os fatos citados.

Anderson Dornelles afirmou, em nota, que nunca esteve em reunião na sede da Odebrecht e que não recebeu nem solicitou ajuda financeira, nem autorizou terceiros a isso.

A assessoria do PSDB de Minas afirmou que os valores doados pela Odebrecht na campanha eleitoral de 2014 foram registrados na Justiça Eleitoral e que Aécio "desconhece supostas citações em planilhas da empresa".


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