Folha de S. Paulo


Subordinado a Pezão na Secretaria de Obras é citado pela Andrade Gutierrez

Os termos do acordo de leniência da Andrade Gutierrez firmado com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) envolveram o terceiro subordinado ao hoje governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), quando esteve à frente da Secretaria Estadual de Obras.

De acordo com o relato de Alberto Quintaes, executivo da Andrade Gutierrez, o presidente da Emop (Empresa de Obras Públicas), Ícaro Moreno, reuniu-se com representantes de empreiteiras para indicar previamente quais seriam as vencedoras de uma licitação para obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) em favelas do Rio, em 2008.

Kevin David - 17.nov.2016/A7 Press/Folhapress
Carro leva o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, preso na Operação Calicute
Carro leva o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, preso na Operação Calicute

Segundo o relato, Moreno também permitiu que as construtoras interferissem na elaboração do edital de licitação, incluindo itens que restringissem a participação de empresas de fora do esquema.

A citação ao nome do engenheiro foi revelada pelo portal UOL, do Grupo Folha, que edita a Folha.

Moreno é presidente da Emop desde 2007. Passou toda a gestão Cabral no cargo e permanece na administração Pezão, iniciada em 2015.

O governador era o secretário estadual de Obras à época da licitação, cargo que ocupou até 2011.

Seu subsecretário-executivo era Hudson Braga, preso na Operação Calicute sob suspeita de cobrar propina de 1% sobre os contratos –chamada de "taxa de oxigênio".

Outro subsecretário da gestão Pezão na pasta foi Iran Peixoto, atualmente titular do órgão. Ele aparece como destinatário de um e-mail no qual Braga se queixa a José Orlando Rabelo, apontado pelo Ministério Público Federal como operador da propina, de atraso no repasse da "caixinha". Ele não é objeto de investigação.

Em nota, Ícaro Moreno negou irregularidades na licitação. "Todos os procedimentos foram feitos dentro da legalidade, baseados na Lei de Licitações, sem infração à ordem econômica", afirma nota divulgada pela Emop.

Pezão não se pronunciou até a conclusão desta edição. O Ministério Público Federal diz não ter evidências contra o atual governador.

CONLUIO

De acordo com o relato da Andrade Gutierrez, representantes da OAS, da Odebrecht, da Queiroz Galvão e da Carioca Engenharia se encontraram na sede da Emop a fim de discutir a divisão das obras, que custariam R$ 1 bilhão.

A mais cara do PAC das Favelas, no Complexo do Alemão, ficou com o consórcio liderado pela Odebrecht. A segunda, em Manguinhos, com a Andrade Gutierrez. A mais barata, na Rocinha, ficou sob responsabilidade do consórcio Novos Tempos, da Queiroz Galvão.

Daniel Marenco - 14.jun.13/Folhapress
Sérgio Cabral, então governador do Rio, em cerimônia de lançamento do PAC das Favelas
Sérgio Cabral, então governador do Rio, em cerimônia de lançamento do PAC das Favelas

A divisão, segundo o relato da empreiteira ao Cade, foi comunicada pelo ex-secretário de Governo Wilson Carlos, preso na Operação Calicute. O critério foi, segundo a versão, o volume de contribuição realizada à campanha do ex-governador Sérgio Cabral, também preso.

O Ministério Público Federal aponta o PAC das Favelas como uma das fontes de propina a Cabral e seu grupo.


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