Folha de S. Paulo


Após votação das dez medidas, clima na Lava Jato é de 'ressaca total'

Alan Marques/Folhapress
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, durante a votação sobre o pacote que reúne um conjunto de medidas de combate à corrupção (DF)
Rodrigo Maia (DEM-RJ) preside sessão da Câmara que aprovou emendas nas dez medidas do MPF

Na manhã seguinte à votação do projeto das dez medidas anticorrupção na Câmara dos Deputados, procuradores e membros da força-tarefa da Operação Lava Jato dizem viver um "clima de ressaca", desânimo e revolta com a desfiguração da lei.

Os parlamentares aprovaram na madrugada desta quarta (24) uma série de emendas que derrubam pontos importantes do pacote original, e incluem a punição de magistrados e membros do Ministério Público por crime de abuso de autoridade.

Esse ponto específico é um dos que mais preocupa a força-tarefa, e foi considerado pelo procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa de Curitiba, uma "lei da intimidação".

"Foi um recado claro aos procuradores e ao [juiz Sergio] Moro", diz um investigador.

A emenda aprovada nesta madrugada prevê punição criminal a membros do Ministério Público que proponham ações de improbidade "de maneira temerária", ou "com finalidade de promoção pessoal ou por perseguição política". O texto também pretende classificar como crime de abuso de autoridade a manifestação de juízes e promotores em qualquer meio de comunicação de opinião sobre processos, próprios ou de terceiros.

Em nota ainda antes da votação, a força-tarefa afirmou que a proposta era "uma tentativa de aterrorizar" o Ministério Público e o Judiciário, numa "evidente retaliação contra grandes investigações".

O juiz Sergio Moro, responsável pelas ações da Lava Jato, também já se posicionou contra a proposta, afirmando que o projeto, por seu caráter vago e subjetivo, pune o juiz por interpretar a lei.

Os procuradores darão uma entrevista coletiva às 16h desta quarta, para comentar a votação.


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