Folha de S. Paulo


Youssef diz que jamais persuadiu investigados a fazer delação na Lava Jato

Paulo Lisboa/Folhapress
Alberto Youssef deixa a sede da Justiça Federal, em Curitiba, após colocar tornozeleira eletrônica; o doleiro cumprirá prisão domiciliar em SP
Alberto Youssef, delator da Lava Jato, deixa a prisão

Em mais uma audiência da ação contra o ex-presidente Lula, em Curitiba, a defesa do petista foi à carga contra a delação premiada do doleiro Alberto Youssef, que depôs como testemunha de acusação nesta sexta (25).

Os advogados perguntaram ao colaborador, um dos primeiros da Operação Lava Jato, se persuadir presos na Polícia Federal fazia parte do seu acordo -reportagem da Folha mostrou que ele incentivava investigados a firmar delação na carceragem.

"Jamais, doutor. Jamais", respondeu o doleiro. "Os outros presos vinham falar comigo para saber como era a colaboração. E eu explicava. A pergunta era mais para saber se podia confiar, se realmente o instrumento funcionava... Esse tipo de assunto."

O advogado José Roberto Batochio também levantou o tema da suposta "delação à la carte", quando uma lista de acusados seria apresentada pelo Ministério Público Federal ao potencial delator. "Não, não sei o que é isso. A minha colaboração não foi feita dessa maneira, e não tenho conhecimento de outras que tenham sido feitas assim", disse Youssef.

O doleiro afirmou ao final do depoimento que a iniciativa de fazer o acordo foi dele.

"A iniciativa foi minha; a decisão tomada foi minha. E aí eu pedi que meus advogados procurassem o Ministério Público Federal", disse.

Além de Youssef, também prestaram depoimento os delatores Fernando Soares, o Baiano, e Milton Pascowitch, que operavam o pagamento de propinas na Petrobras.

Todos os três afirmaram nunca ter tratado de propinas com o ex-presidente, e nem ter conhecimento do apartamento atribuído a Lula no Guarujá, tema da acusação.

BALANÇO

Após o fim da audiência, os advogados de Lula emitiram uma nota afirmando que nenhuma das testemunhas de acusação confirmou a tese do MPF, e voltaram a dizer que há "perseguição política" contra o ex-presidente.

Para eles, não há corrupção sistêmica na estatal, como apontou a Lava Jato, e Lula não era o chefe do esquema criminoso de arrecadação de propina.

"Os depoimentos recolocam em outro plano os resultados obtidos pela Lava Jato. O foco de corrupção está restrito a algumas empresas privadas, alguns dirigentes da Petrobras e, ainda, alguns agentes políticos", diz a nota.

Na interpretação dos advogados, o foco de corrupção era "hermético" e atuava apenas na margem de variação de preços aprovada pela diretoria da estatal.

"Concluir que Lula era o centro desse processo, como fez o MPF, só pode ser ato de voluntarismo maldoso", afirmam os advogados Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira.


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