Folha de S. Paulo


Para oposição, demissão de Geddel visa tirar foco de Temer

A oposição no Congresso Nacional não viu no pedido de demissão de Geddel Vieira Lima, na manhã desta sexta-feira (25), uma forma de amenizar a crise que se abateu sobre o Palácio do Planalto desde semana passada.

Para senadores, a saída visa tirar o foco do presidente Michel Temer, acusado pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de pressioná-lo no caso do empreendimento imobiliário que acabou culminando no afastamento de Geddel.

"Primeiro, é um explícito reconhecimento de culpa e da gravidade do fato ocorrido. É o ministro mais forte do governo que termina obrigado a pedir demissão. Segundo, é uma demonstração desesperada, porque na verdade a crise já invadiu a sala da Presidência. Uma tentativa de jogar carne aos leões para segurar o governo", afirmou o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).

A Folha revelou nesta quinta-feira que, em depoimento à Polícia Federal, Calero disse que Temer o "enquadrou" no intuito de encontrar uma "saída" para obra de interesse de Geddel em Salvador.

Ministros caídos do Governo Temer

Para o senador petista, o envolvimento de Temer no assunto deixa claro a ocorrência de crime de responsabilidade. "O episódio caracterizou a existência de uma articulação, uma estrutura organizada, que, entre outras coisas, pode defender interesses privados e isso caracteriza, sem dúvida, crime de responsabilidade", destacou Costa.

No Senado esta manhã, o líder da oposição, Lindbergh Farias (PT-RJ), voltou a defender o impeachment de Temer, que, segundo ele, deve ser apresentado na próxima segunda (28). Neste mesmo dia, o PSOL da Câmara também pretende protocolar um documento pedindo o afastamento definitivo do presidente da República do cargo.

Ele e a também petista Gleisi Hoffmann (PR) seguiram o discurso de Humberto Costa e afirmaram, em plenário, que a demissão de Geddel visa mudar o foco das atenções.

Além disso, defenderam que não pode ocorrer na próxima terça (29), conforme previsto, a votação da PEC que estabelece um teto de gastos para a União para os próximos 20 anos. "Um assunto dessa magnitude, no meio dessa crise! Haverá várias caravanas de movimentos sociais em Brasília. Vamos trazer o assunto para o plenário", afirmou Lindbergh, que completou: "Acho que esse governo perdeu todas as condições políticas de continuar".

Lindbergh entrará, ainda, com uma representação na PGR por infração penal comum, pedindo um julgamento de Temer pelo STF (Supremo Tribunal Federal). "Ele cometeu um crime no exercício do mandato, dentro do Palácio do Planalto."

Além disso, farão um adendo a uma representação já protocolada na PGR na segunda (21), com pedido de afastamento de Geddel. Também pedirão investigação de Temer, Eliseu Padilha (Casa Civil), Gustavo Rocha (secretário de Assuntos Jurídicos) e Grace Mendonça (advogada-geral da União), de quem querem ainda o afastamento.

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Carta de demissão de Geddel Vieira Lima
Carta de demissão de Geddel Vieira Lima

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