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'Relevância disso me escapa', diz Moro sobre ligação da Lava Jato com EUA

Paulo Lisboa/Brazil Photo Press/Folhapress
O juiz federal Sergio Moro participa nesta quarta do lançamento do livro
O juiz federal Sergio Moro, da Lava Jato, em evento de Curitiba

Em nova audiência da ação contra o ex-presidente Lula no Paraná, o juiz federal Sergio Moro, que conduz o processo, rebateu nesta quinta (24) a tese da defesa do petista, que vê um elo entre a Operação Lava Jato e o governo americano.

"Com todo o respeito, mas essa linha de indagação, a relevância disso me escapa completamente", afirmou Moro a um dos advogados, durante as perguntas ao ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. "Salvo aquela talvez tese de que isso é um plano para colher as reservas de petróleo do Brasil, ou coisa parecida."

Os advogados tentavam saber se Cerveró, delator da Lava Jato, também havia celebrado um acordo nos Estados Unidos ou em outros países. Ele, porém, se negou a responder as questões, alegando termos de confidencialidade.

A defesa de Lula suspeita que a Lava Jato colabore em caráter informal com o governo americano, indicando delatores para celebrar acordos no exterior. Para os advogados, isso contraria tratados assinados pelo governo brasileiro, que colocam o Ministério da Justiça como autoridade central para tratar do tema.

"O que está sendo discutido aqui é essa acusação. Nós não estamos cuidando do processo lá nos Estados Unidos", disse Moro ao advogado Cristiano Martins Zanin, durante a audiência.

"Se é que há alguma coisa disso, se houver alguma invalidade nos Estados Unidos, certamente as cortes americanas vão se preocupar com isso. A acusação ao seu cliente não tem nenhuma relação com esses fatos."

Zanin insistiu no tema e afirmou que as perguntas tinham a ver com a validade da prova.

"A prova que foi colhida é o acordo de colaboração feito no Brasil", respondeu Moro. "A minha sugestão é que a defesa faça questionamentos sobre fatos que tenham relevância para essa acusação. E não sobre processos supostos e eventuais nos Estados Unidos, que não têm nenhuma relação com a acusação feita contra seu cliente."

Cerveró falou por cerca de uma hora e meia, como testemunha de acusação.

Ao longo de seu depoimento, afirmou que não conhece o tríplex atribuído a Lula no Guarujá, tema da ação. Ele também não soube dizer se o ex-presidente sabia dos acertos de propina realizados na Petrobras, embora tenha sido informado que Lula tinha conhecimento dos grupos políticos que indicavam as diretorias.


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