Folha de S. Paulo


Amigo de ministro, integrante de comissão advoga para construtoras

Alan Marques/Folhapress
Ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, se reúne com indígenas no anexo do Palácio do Planalto, em Brasília (DF)
O ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima

Com a missão de discutir o futuro do ministro Geddel Vieira Lima dentro da Comissão de Ética da Presidência da República, o conselheiro José Leite Saraiva Filho é advogado da Ademi (Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário) da Bahia, entidade que representa as construtoras no Estado.

Entre suas associadas, está a Cosbat, dona do empreendimento La Vue Ladeira da Barra, em Salvador, onde Geddel adquiriu unidade.

Em maio de 2015, a Ademi publicou em sua página oficial o lançamento do "empreendimento de alto padrão" da Cosbat. Segundo o site da associação, a vista para o mar é seu "diferencial".

Na Bahia, Saraiva representa os interesses da associação de construtoras numa ação contra o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e o plano diretor de Salvador.

Em disputa, está o zoneamento urbano da avenida Paralela, que liga a cidade de Salvador ao Aeroporto.

O Iphan está no centro da polêmica em torno da denúncia do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, que contou à Folha ter sido pressionado por Geddel para liberar a obra do edifício La Vue.

SEM CONFLITO

Saraiva continua defendendo a empresa mesmo depois de sua nomeação para a Comissão de Ética, em setembro passado. Para ele, não há conflito de interesse nisso.

"Nem um pouco. A entidade não se confunde com seus associados [no caso a Cosbat]. Não me sinto desconfortável de forma alguma, nem por questões pessoais nem profissionais", afirmou.

Saraiva argumenta que o caso em que atua em favor das empresas refere-se à parte moderna de Salvador. "Não tem nada ver com esse assunto aí, que é o lado velho."

Amigo de Geddel, Saraiva foi autor, na segunda (22), de um pedido de vista para abertura do processo contrao ministro na Comissão de Ética da Presidência da República –voltou atrás na decisão no mesmo dia.

Ele diz que o pedido de vista foi pautado por critérios objetivos. "Entendi que era muito contemporâneo. Não havia lido todas aqueles reportagens e não havia uma representação formal por parte da autoridade que dera a entrevista inicialmente."

Saraiva disse que faltava "identificar com precisão que são pontos considerados sujeitos à apuração: data, local, horário e circunstâncias".

O conselheiro negou ter sido constrangido a voltar atrás do pedido. Ele contou que recuou após um telefonema do próprio ministro.

"Do que adiantaria retardar a apuração, se o próprio investigado queria quer fosse aberto? Depois que eu o interessado diz que quer, nem que eu não quisesse. Não é problema meu."

Ele afirmou também que sua relação pessoal com Geddel não afetará sua decisão: "Amizade não vai pesar. Já fui e sou ex-adverso [adversário em tribunal] de muitos amigos, muito próximos".

Saraiva pede que sua atuação seja compreendida dentro de um contexto.

"Existem formas de funcionamento da instituição e de atuação de membros desta e de outras instituições dentro da normalidade do que se trata, independentemente das minhas relações como advogado, minhas relações pessoais e profissionais".

Embora o estatuto da Comissão de Ética da Presidência recomende o impedimento dos conselheiros em caso de relação pessoal ou profissional com os envolvidos dos casos, Saraiva diz que não se sente impedido.

"O fato de as pessoas se conhecerem não significa que tenha um comprometimento do seu intelecto", afirmou.


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