Folha de S. Paulo


Secretário de Pezão recebeu e-mail com cobrança de 'caixinha'

Mauro Pimentel - 03.mar.16/Folhapress
RIO DE JANEIRO, RJ, 03.03.2016: ENTREVISTA COM O GOVERNADOR PEZAO - Entrevista exclusiva com o governador do Rio de Janeiro Luiz Fernando Pezão no seu gabinete no Palácio Guanabara. (Foto: Mauro Pimentel/Folhapress, FSP-FOTO) ***EXCLUSIVO FOLHA***
O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão

O atual secretário estadual de Obras do Rio, José Iran Peixoto Jr., recebeu por e-mail uma cobrança de "caixinha" do antecessor no cargo, Hudson Braga, preso na Operação Calicute sob suspeita de receber propina nas obras do Estado.

O e-mail foi enviado em agosto de 2012, quando Braga era secretário e Iran, subsecretário.

Foi copiado José Orlando Rabelo, chefe de gabinete da pasta à época e apontado como operador financeiro da quadrilha.

A mensagem consta do pedido de prisão feito pelo Ministério Público Federal. O atual secretário, contudo, não está sob investigação e sequer é citado nos autos.

Procurado, ele não havia comentado o caso até o fechamento desta edição.

No e-mail, que levava o subtítulo "caixinha", Braga faz uma reclamação aos então auxiliares.

"O prazo dos srs esgotou hoje e nenhum de vocês dois me trouxeram nada!!! Eh lamentável eu ter que ficar cobrando!!! Gostaria de inverter essa lógica!!! [] Foi minha última cobrança!! (sic)", diz o e-mail, enviado em 31 de agosto de 2012.

Editoria de Arte/Folhapress

Para a Procuradoria, a mensagem é uma cobrança a Rabelo "por este não ter entregue possivelmente dinheiro oriundo de propina".

Rabelo responde no dia seguinte, informando que falaria com o superior "pessoalmente sobre este item". Esta segunda mensagem, contudo, não foi enviada para Iran.

De acordo com o MPF, Braga cobrava a chamada "taxa de oxigênio", referente a 1% dos contratos de obras no Estado.

Segundo as investigações, este valor era pago de forma independente aos 5% exigido, segundo a Procuradoria, pelo ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) às empreiteiras.

Assim como Braga, o arquiteto e engenheiro José Iran Peixoto Jr. acompanhou o atual governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB), por toda a gestão Cabral.

Pezão foi o titular da Secretaria Estadual de Obras entre 2007 e 2011. Neste período, Hudson Braga era o subsecretário executivo da pasta e Iran, subsecretário de Saneamento e de Obras Metropolitanas.

Ele também já ocupou cargos na assessoria da vice-governadoria, quando Pezão ocupava este posto. Iran foi nomeado o titular da pasta em julho de 2014, quando o peemedebista assumiu o Estado, após a saída de Cabral.

A Procuradoria investiga cobranças de propina em todas as obras do Estado. De acordo com o procurador regional da República, José Antônio Vagos, os valores indevidos eram "a regra do jogo".

Os investimentos sobre os quais o MPF tem elementos de prova são a reforma do Maracanã, as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) nas favelas e a construção do Arco Metropolitano do Rio.

Todas essas foram citadas por executivos da Andrade Gutierrez e da Carioca Engenharia como sendo um dos motivos da propina paga a Cabral e Braga.

De acordo com as investigações, os pagamentos ao então secretário de Obras eram autorizadas pelo ex-secretário de Governo Wilson Carlos.

Inicialmente, o 1% exigido pelos integrantes da pasta era alvo de questionamento dos executivos das empresas envolvidas. Carlos, um dos braços direitos de Cabral, afirmou que a "taxa de oxigênio", como era chamada, era necessária.


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