Folha de S. Paulo


Em depoimento à PF, Cabral nega propina e 'externa indignação'

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Foto do ex-governador Sérgio Cabral ao dar entrada em presídio
Foto do ex-governador Sérgio Cabral ao dar entrada em presídio

O ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) negou em depoimento à Polícia Federal envolvimento com a cobrança de propina a empreiteiras no Estado.

Ele demonstrou "indignação" em relação às "mentiras absurdas" que constam nas delações de executivos da Andrade Gutierrez e Carioca Engenharia.

Cabral evitou dar detalhes em relação aos fatos apurados na operação Calicute, que levou à sua prisão.

Disse não se recordar de compras de joias, bem como de todo o "auxílio em sua vida pessoal financeira" dado pelo economista Carlos Eduardo Miranda, apontado como operador financeiro da quadrilha.

O ex-governador citou por três vezes o sucessor no cargo, Luiz Fernando Pezão (PMDB), sem lhe atribuir qualquer ato criminoso.

Cabral afirma que era responsabilidade dele o contato com os executivos de empreiteiras no governo.

"[O advogado de Cabral] Perguntou ao declarante [Cabral] sobre quem seria o secretário de obras responsável pela obra de licitação de reforma do Maracanã, tendo este respondido que se iniciou na gestão Luiz Fernando Pezão, como secretário de obras, tendo sido concluída na gestão Hudson Braga [também preos]. [Cabral] informa que ambos efetuaram diversas visitas às obras e o indiciado apenas umas duas vezes", diz o termo de depoimento do ex-governador.

Cabral foi preso sob suspeita de ter cobrado uma mesada da Andrade Gutierrez e a Carioca Engenharia de 5% dos contratos dessas empreiteiras com o Estado. A informação conta das delações premiadas de executivos das duas empresas.

Pezão foi o secretário de Obras no primeiro mandato de Cabral, quando foi o responsável pelos contratos da reforma do Maracanã, das obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e do Arco Metropolitano, todos sob suspeita. O Ministério Público Federal afirma que o atual governador não é investigado.

O peemedebista afirmou que em todos os encontros com os executivos dessas empreiteiras "havia o titular da pasta, no mínimo, e nestes casos em geral o secretário de obras".

"Relata ainda que o secretário de obra e, posteriormente, coordenador de infra-estrutura Luiz Fernando Pezão possuía contato com Fernando Cavendish e outras empreiteiras que tratavam com sua pasta", aponta o termo de depoimento de Cabral.

O ex-governador afirmou ainda que Hudson Braga lhe foi apresentado por Pezão em 2006, ano de sua eleição para o governo.

Cabral atribuiu as "informações apresentadas nas delações dos mencionados [dos executivos da Andrade Gutierrez] foram para salvar as delações dos executivos da Andrade Gutierrez e Paulo Roberto Costa, desconhecendo tais fatos e sendo isso uma mentira".

"[O peemedebista] Externou sua indignação com a situação e a afirmação dos delatores e que tem a consciência tranquila quanto as mentiras absurdas que lhe foram imputadas e que acredita na Justiça", afirma o ex-governador, segundo o termo de depoimento.

O ex-governador afirmou que não tem detalhes sobre os clientes do escritório de sua mulher, Adriana Ancelmo. A procuradoria suspeita de que os repasses à banca de advocacia sejam parte da propina paga ao grupo.

Cabral disse ainda que as consultorias que prestou após o fim de seu mandato não produziram nenhum relatório ou parecer que comprovasse o serviço.

"[O ex-governador] Informa que o resultado se dá de forma mais pessoal em encontros de aconselhamento."

Mesma versão deu Miranda para explicar o faturamento de R$ 13 milhões de sua consultoria. Em depoimento, ele afirmou que a queda da receita da empresa após a gestão Cabral se deve à publicação de seu nome na imprensa como envolvido em transações suspeitas.

O ex-secretário de Governo Wilson Carlos também negou a participação em propinas no Estado. Ele afirmou que está desempregado desde 2014, "à procura de recolocação no mercado de trabalho".


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