Folha de S. Paulo


Em congresso, MBL tenta ser descolado para defender direita

Bruno Santos/Folhapress
Camisetas vendidas no 2º Congresso do MBL (Movimento Brasil Livre) que ocorreu neste final de semana em SP
Camisetas vendidas no 2º Congresso do MBL (Movimento Brasil Livre) neste final de semana em SP

No primeiro dia do 2º Congresso do MBL (Movimento Brasil Livre), Pedro D'Eyrot, líder do grupo e membro da banda Bonde do Rolê, fez uma apresentação em que argumentou que pessoas de esquerda mantêm menos relações sexuais que os outros.

"Eu acho que essa esquerda não está transando tanto assim quanto a gente foi levado a acreditar pelo discurso de liberação sexual", disse, após mostrar uma série de slides para a plateia­.

Ele mostrou dados sobre a votação do Brexit [saída do Reino Unido da União Europeia] e da eleição americana para concluir que eleitores jovens preferem opções mais à esquerda. O slide seguinte destacou notícia segundo a qual os jovens da atualidade transam menos os de gerações anteriores.

"Ser jovem é ser de esquerda e ser de esquerda é transar menos", argumentou D'Eyrot, que disse querer apresentar uma antítese ao escritor e colunista da Folha Luiz Felipe Pondé, que "uma vez disse que a direita precisava transar mais, precisava ser mais festiva".

O uso de linguagem engraçada ou "descolada" para tocar em temas caros à direita foi um dos pilares do congresso do movimento que se notabilizou por ser um dos principais defensores do impeachment da ex-presidente Dilma.

Um dos convidados do evento foi o humorista Danilo Gentili. "Sobre a importância do humor, o Ronald Reagan [presidente dos EUA nos anos 80] é um cara que diminuiu o comunismo fazendo piadas sobre ele", disse o comediante, que abriu a sua fala afirmando ser constantemente acusado de machista, homofóbico e fascista.

CAMISETAS

No decorrer do evento, realizado no sábado e no domingo em São Paulo para cerca de 400 delegados de todo o país, palestrantes sustentaram que as ideias de esquerda são hegemônicas na política e na imprensa, enquanto as ideias liberais representam a normalidade ou o senso comum.

Um dia antes, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes seguiu pensamento semelhante: "A ideia de que nós não devemos gastar mais do que arrecadamos parece algo óbvio nas nossas casas. Isso não é de esquerda nem de direita, mas se tornou um discurso de que quem faz isso é neoliberal".

Para o analista financeiro polonês Marek Troszczynski, pessoas de esquerda "perderam qualquer habilidade de argumentar de forma lógica e inteligente" porque seu pensamento "dominou o discurso público nos últimos 50 anos".

"Eles ficaram preguiçosos por estar no topo. E nesses últimos 50 anos temos trabalhado muito, muito duro. Agora é a hora da retaliação", concluiu o palestrante.

O evento contou também com a participação do deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), do ministro Mendonça Filho (Educação), do prefeito eleito de São Paulo, João Doria, e da advogada Janaína Paschoal, uma das signatárias do pedido de impeachment de Dilma. O Congresso do MBL foi encerrado com fala do colunista da Folha Reinaldo Azevedo.

Enquanto os políticos preferiam terno e gravata, alguns dos palestrantes mais jovens desfilaram camisetas vendidas pelo MBL.

Uma exibia um slide da apresentação da denúncia criminal da força-tarefa da Operação Lava Jato contra o ex-presidente Lula, que acabou virando meme ao mostrar o petista dentro de um grande círculo como comandante da corrupção no país.


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