Folha de S. Paulo


Derrotado em sua base, Garotinho mirava governo do Rio antes de prisão

Carlos Grevi - 6.out.14/Futura Press/Folhapress
AMPOS DOS GOYTACAZES,RJ,06.10.2014:CRIVELLA-GAROTINHO-APOIO - O candidato ao governo do Estado do Rio de Janeiro pelo PRB, Marcelo Crivella e sua esposa (e) recebem apoio do candidato derrotado Anthony Garotinho e sua esposa (d), em Campos dos Goytacazes, RJ, na manhã desta terça-feira (7)
Em 2014, Garotinho apoiou Crivella após não ir ao segundo turno na eleição para o governo do RJ

Derrotado em sua base eleitoral, o ex-governador Anthony Garotinho (PR) comemorava como principal vitória política a eleição do senador Marcelo Crivella (PRB) para a Prefeitura do Rio antes de ser preso nesta quarta (16) por suspeita de compra de votos.

A vitória lhe deu esperanças de poder concorrer mais uma vez ao governo do Estado, desta vez com o possível apoio do prefeito da capital. Na sua última tentativa, em 2014, sequer chegou ao segundo turno. Foi superado pelo mesmo Crivella, derrotado pelo governador Luiz Fernando Pezão (PMDB).

Contudo, Garotinho reconhecia que seu nome não era certo em 2018. Em conversa recente com a Folha, além de incertezas no cenário local, ele condicionou a candidatura até ao resultado da eleição norte-americana.

"Estamos vivendo três conjunturas que confluíram no mesmo momento. Uma crise econômica, política e moral. Quando isso acontece, a reação das pessoas é imprevisível. Ainda paira sobre a cabeça daqueles que pensam um pouquinho adiante a ameaça de uma crise internacional, se houver a eleição do [Donald] Trump nos Estados Unidos. Você há de convir que, se esse cara ganha, é uma crise", disse Garotinho à Folha em 3 de novembro, antes da eleição do bilionário.

"No Brasil, havia momentos em que as pessoas falavam em plano decenal. Depois, houve um período difícil em que as pessoas faziam planejamento anual. Caiu de dez para um. Depois, chegou um momento que o sujeito faz o planejamento mensal. Ultimamente o que a gente faz é o planejamento do dia seguinte. [...] No momento, eu tenho um projeto: provar que a eleição de Campos foi fraudada", disse Garotinho.

Atual secretário municipal de Governo em Campos, Garotinho há 14 anos foi a terceira via que mais se aproximou de chegar ao segundo turno numa eleição presidencial.

Em 2002, obteve 17% dos votos válidos, 4 milhões a menos do que o então candidato José Serra (PSDB), que perderia a eleição para Lula (PT). Nem Marina Silva (Rede) chegou tão perto de um segundo turno –embora tenha obtido mais votos em 2010 e 2014, a ex-ministra ficou mais distante do segundo colocado.

Garotinho encerrava aquele ano uma gestão bem avaliada no governo do Rio, mas que acumulou diversas denúncias. Entre elas, uso eleitoral do programa Cheque Cidadão, a mesma que lhe causou a prisão nesta quarta-feira. Ele também é alvo de mais de dez processos, acusado de desvio de verba pública por meio de ONGs de fachada.

Seu apoio elegeu a mulher, Rosinha Matheus (PR), como governadora em 2002 pelo PSB. Na gestão, assumiu o cargo de Secretário de Segurança.

Atos neste cargo lhe renderam a condenação por formação de quadrilha, a única penal que sofreu. A Justiça federal considerou que ele permitiu, no cargo, a atuação de policiais corruptos, entre eles o então chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins. Ele nega as acusações e recorre da decisão.

Após romper com Sérgio Cabral (PMDB) em 2006, logo após a eleição na qual o apoiou, Garotinho voltou-se para seu reduto eleitoral. Em Campos, onde foi duas vezes prefeito, elegeu mais uma vez a mulher em 2008.

A última vitória eleitoral expressiva foi em 2010, quando Garotinho foi o deputado federal mais votado da história do Estado. Os quase 700 mil votos superam inclusive a marca de Jair Bolsonaro (PSC) quatro anos depois, de 464 mil votos.

Em 2014, amargou a derrota de sequer chegar ao segundo turno da eleição estadual. Foi abandonado pelos principais aliados, que deixaram o PR e, alguns, seguiram para o PMDB.

A família agora aos poucos perde poder no PR. A filha, a deputada federal Clarissa Garotinho (PR-RJ) e presidente municipal da sigla, corre o risco de ser expulsa do partido por ter votado contra a proposta de teto de gastos do governo Michel Temer.

Se ela se consumar, a família planejava se abrigar em outra sigla. Seria a sexta de Garotinho, que também já deixou o PT, PDT, PSB e o PMDB por conflitos internos.


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