Folha de S. Paulo


Operação policial em escola do MST tem confronto e dois sem-terra detidos

Divulgação/MST
Armados, policiais rendem militantes na escola Florestan Fernandes, em Guararema (SP)
Armados, policiais civis rendem militantes na escola Florestan Fernandes, em Guararema (SP)

Uma operação deflagrada pela Polícia Civil de São Paulo na manhã desta sexta-feira (4) na escola nacional Florestan Fernandes, terminou em confronto com militantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) e dois detidos.

Por volta das 9h30, cerca de dez viaturas do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos) chegaram à porta da instituição, que forma militantes sem-terra e fica em Guararema (Grande São Paulo).

Segundo os militantes, eles teriam apresentado um mandado de prisão emitido pela Justiça do Paraná contra uma ativista identificada como Margareth.

Ao serem informados de que ela não se encontrava no local e de que sua entrada não seria permitida, os policiais teriam então invadido a escola.

"Entraram atirando", afirma João Paulo Rodrigues, coordenador nacional do movimento.

Cerca de 200 alunos estariam presentes na ação, em que foram disparados tiros de armamento letal —no local, a Folha viu cápsulas.

Fotos divulgadas pelo movimento mostram policiais apontando pistolas para os militantes.

"Eu não sei quem é essa mulher, isso foi um pretexto para entrarem aqui", afirmou Gilmar Mauro, coordenador do movimento.

Após a entrada dos policiais, dois militantes foram detidos e autuados por desacato e lesão corporal.

Um deles foi o aposentado Ronaldo Hernandes, 64, portador do mal de Parkinson.

Segundo seu depoimento à polícia, a que a Folha teve acesso, ele teria sido agredido com socos e pontapés, "quando já estava com algemas no chão".

Segundo a musicista Gue Oliveira, que participava de atividade na escola e também foi detida, Hernandes teria tentado desviar a arma de um dos policiais por estarem próximos ao parquinho infantil da escola.

"Eu tentei dizer que ele era doente", afirma Oliveira. "Eles disseram pra gente: 'saímos no lucro, viemos pegar um e pegamos dois'."

O idoso teve costelas fraturadas em decorrência da operação.

Segundo o MST, a ação foi ilegal. "O MST repudia a ação da polícia de São Paulo e exige que o governo e as instituições competentes tomem as medidas cabíveis nesse processo. Somos um movimento que luta pela democratização do acesso a terra no país e a ação descabida da polícia fere direitos constitucionais e democráticos", afirmou, em nota.

Participaram de reunião no local após a ação os deputados Nilto Tatto (PT-SP) e Ivan Valente (PSOL-SP), além de lideranças sindicais.

"A polícia do [governador] Geraldo Alckmin tem que responder sobre essa ação arbitrária", afirmou Valente. Foi marcado um ato na escola para este sábado, às 15h.

OPERAÇÃO CASTRA

A ação faz parte da Operação Castra, deflagrada no Paraná para prender 14 pessoas suspeitas de furto e dano qualificado, roubo, invasão de propriedade, incêndio criminoso, cárcere privado, lesão corporal, porte ilegal de arma de fogo de uso restrito e irrestrito e constrangimento ilegal.

A investigação começou em março, após a invasão de uma fazenda em Quedas do Iguaçu (PR), quando empregados foram mantidos em cárcere privado.

OUTRO LADO

Segundo Ita Dias, investigador-chefe do Garra, da Seccional de Mogi das Cruzes (Grande SP), não houve irregularidades na ação.

De acordo com ele, os policiais teriam sido ofendidos por um militantes, após questionarem porque ele filmava a ação.

Depois, diz ele, quatro policiais teriam sido puxados para dentro da escola por meio da janela da recepção, e passaram a ser agredidos pelos militantes com tijolos e pedaços de madeira.

"Se não entrássemos, eles seriam linchados", afirmou.

A Folha constatou que ao menos dois policiais apresentavam escoriações leves nos braços e mãos.

A Polícia Civil informou que recebeu da polícia do Paraná solicitação de ajuda para cumprir um mandado de prisão em Guararema contra Margareth Barbosa de Souza. Ao chegar à escola onde ela estaria, foram "recebidos com violência". "Pessoas que estavam presentes tentaram desarmar os agentes e quatro deles ficaram feridos", disse a nota.


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