Folha de S. Paulo


Cabral admite que mulher ganhou anel de dono da Delta

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Rio de Janeiro 02.07.2016 Fernando Cavendish, dono da Delta, e preso ao chegar no Rio Empresario teve prisao expedida pela Justiaca.Ele foi preso por agentes da PF ao desembarcar no aeroporto Tom Jobim. Reproducao Globo News
Fernando Cavendish, dono da Delta, teve prisão expedida pela Justiça em junho

O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral admitiu, em nota, que sua mulher, Adriana Ancelmo, foi presenteada com um anel pelo empresário Fernando Cavendish. Cabral, entretanto, diz desconhecer o valor da joia.

"Posteriormente, quando foram divulgadas as denúncias contra Cavendish envolvendo Carlos Cachoeira, o Estado acompanhou o Governo Federal na decretação da inidoneidade da Delta, motivo pelo qual o casal praticou o gesto de devolver o presente", afirma a nota.

Cavendish, dono da empreiteira Delta, diz ter pago cerca de R$ 800 mil na joia, que teria sido dada para a mulher do ex-governador em 2009. A informação é do jornal "O Globo".

O anel teria sido adquirido em Mônaco, na França, onde ele e o governador viajavam acompanhados de amigos. A joia teria sido entregue durante um jantar, como presente de aniversário para a mulher do peemedebista.

Cavendish teria oferecido a informação durante a negociação de sua delação premiada. Como prova, ele supostamente mostrou umafoto em que Adriana usava o anel, a nota fiscal, o comprovante de pagamento do cartão de crédito e o certificado de compra.

Cabral teria devolvido a joia em 2012, quando o ex-governador rompeu relações com Cavendish após surgirem acusações de que o executivo lavava dinheiro usando as empresas do bicheiro Carlinhos Cachoeira.

A relação com Sérgio Cabral é um dos pontos da possível delação de Cavendish, que promete detalhar suposto esquema de pagamento de propinas a políticos do PSDB e do PMDB.

Entre outras obras no Estado do Rio, sua empreiteira conseguiu contratos para realizar a reforma do Estádio do Maracanã e do Centro Aquático Maria Lenk, usados na Olimpíada Rio-2016.

OPERAÇÃO SAQUEADOR

A proposta de delação, que foi apresentada para o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro e para a Procuradoria-Geral da República, acontece no âmbito da Operação Saqueador, que investiga irregularidades em repasses de recursos públicos e fraudes nas obras da Delta.

Cavendish foi alvo da operação em junho, quando ele e Cachoeira foram presos preventivamente. Ambos receberam habeas corpus do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e cumprem prisão domiciliar.

Segundo o Ministério Público, entre 2007 e 2012, a Delta teve mais de 96% de seu faturamento vindo de verba pública -algo em torno de R$ 11 bilhões, sendo R$ 6,6 bi de contratos com o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte).

Desse valor, ao menos R$ 370 milhões teriam sido desviados por meio de pagamentos a 18 empresas de fachada.

As delações premiadas do ex-senador Delcídio do Amaral e de executivos da Andrade Gutierrez negociadas na Operação Lava Jato trouxeram indícios da relação entre o dono da Delta e Cachoeira no pagamento de propina a agentes públicos.

Na delação da Andrade, executivos citaram Cabral como beneficiário de propinas por obras do Maracanã, do Comperj e do Arco Metropolitano, o que ele nega. A Delta participou das três obras.

A ação é um desdobramento da Operação Monte Carlo, que em 2012 apontou indícios do envolvimento de Cachoeira com Cavendish no desvio de verbas de obras públicas no Centro-Oeste.

À época, esses crimes não geraram condenações na Justiça para Cavendish. Cachoeira foi sentenciado a 39 anos de prisão por peculato, corrupção, violação de sigilo e formação de quadrilha, mas recorria em liberdade.


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