Folha de S. Paulo


Justiça tenta bloquear R$ 221 mi de Cunha, mas encontra contas zeradas

Um pedido de bloqueio de R$ 221 milhões feito em uma ação que corre em paralelo às investigações da Operação Lava Jato encontrou quatro contas do ex-deputado Eduardo Cunha com saldo zero.

O pedido judicial feito ao Banco Central só encontrou recursos nas contas da mulher do deputado cassado, a jornalista Claudia Cordeiro Cunha. Ela tem R$ 623,5 mil em duas contas, os quais foram bloqueados em junho, dias depois de o pedido ter sido apresentado à Justiça.

Como parlamentar, Cunha recebia um salário bruto de R$ 33,8 mil. Ele foi cassado em 12 de setembro, três meses depois de a Justiça ter decidido bloquear os R$ 221 milhões numa ação de improbidade. No caso de Claudia, a Justiça decidiu bloquear R$ 17,85 milhões.

A ação visa reparar os supostos prejuízos que o deputado teria causado à Petrobras no caso da venda de um campo de petróleo em Benin, na África, para um empresário português em 2011. Nessa ação, Cunha é acusado de ter recebido o equivalente a US$ 1,5 milhão em propina, o correspondente hoje a R$ 4,75 milhões.

O valor foi depositado numa conta na Suíça por ordem do empresário português Idalécio Oliveira, que comprou os campos da Petrobras por US$ 34,5 milhões, segundo a acusação dos procuradores. A propina total da venda do campo de petróleo foi de US$ 10 milhões, ainda de acordo com os procuradores da Lava Jato.

A venda foi negociada pela diretoria internacional da Petrobras, que em 2011 era ocupada por Jorge Zelada, indicado ao cargo pelo PMDB.

A ação corre na 6ª Vara Federal de Curitiba, que tem como titular o juiz Augusto Gonçalves.

A defesa de Cunha tentou evitar o bloqueio, mas o Tribunal Regional Federal do Porto Alegre, que julga os recursos de Curitiba, recusou o pedido.

Procurada pela Folha na noite desta quarta (19), a defesa de Cunha na ação de improbidade não quis se pronunciar.

-

MOTIVOS PARA A PRISÃO PREVENTIVA

Segundo o juiz Sergio Moro

Boa prova de autoria e materialidade dos crimes
"As provas orais e documentais, portanto, indicam [...] que Eduardo Cosentino da Cunha foi beneficiário de acertos de propinas"

Risco à aplicação da lei penal
"Enquanto não houver rastreamento completo do dinheiro [...], há um risco de dissipação do produto do crime, [...] presente igualmente um risco de fuga ao exterior"

Risco à investigação
"[...] agiu, reiteradamente, para obstruir as investigações e a apuração de suas responsabilidades, intimidando testemunhas, advogados e autoridades responsáveis pela condução dos processos"

Risco à ordem pública
"A dimensão e o caráter serial dos crimes estendendo-se por vários anos, é característico do risco à ordem pública"

Cunha na Lava Jato

OUTRAS INVESTIGAÇÕES

Porto Maravilha
Empreiteiras teriam pago propina por financiamento

Requerimentos na Câmara
Suposto abuso de poder para extorquir adversários

Caixa Econômica Federal
Supostos desvios de fundos

BTG Pactual
Suspeita de recebimento de propina para aprovar emenda que favorecia o banco BTG Pactual

Furnas
Suspeita de recebimento de propina em contratos da estatal


Endereço da página:

Links no texto: