Folha de S. Paulo


Prisão de Cunha provoca paralisação em votações e reuniões na Câmara

Apesar de as quartas-feiras serem os dias de maior movimentação e trabalho na Câmara dos Deputados, as votações e sessões sofreram uma paralisação nesta tarde (19) após o anúncio da prisão do ex-deputado e ex-presidente da Casa Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

A notícia chegou no momento em que o plenário tentava votar a conclusão do projeto que altera as regras de exploração do pré-sal.

Houve um silêncio nos microfones, em um primeiro momento, mas a sessão logo foi tomada por manifestações de adversários de Cunha.

O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) foi o primeiro a falar sobre a questão nos microfones, às 13h36. Não houve um só comentário na sequência. Só cerca de meia hora depois outros adversários de Cunha foram aos microfones e começaram a falar do assunto.

O oposicionista Sílvio Costa (PT do B-PE) ressaltou a proximidade do preso com o governo Michel Temer.

O único a falar em tom destoante foi Alberto Fraga (DEM-DF), segundo quem a oposição não deveria comemorar pois o próximo a ser preso pode ser o ex-presidente Lula. "Hoje foi o Cunha, mas amanhã pode ser o Lula. E espero que essa tribuna não seja usada para show de pirotecnia", disse.

Em silêncio, a base governista e aliados não deram quorum suficiente, apesar de a mudança do pré-sal ser uma das prioridades de Michel Temer (PMDB).

O "cafezinho" anexo ao plenário, por outro lado, estava lotado de deputados assistindo às notícias dos desdobramentos da prisão.

A sessão foi logo encerrada por falta da presença mínima dos deputados.

Reuniões de comissões também foram adiadas para a semana que vem, incluindo a que instalaria o colegiado que discutirá a reforma política.

Pela manhã, líderes de bancadas governistas haviam acertado a instalação da comissão para esta quarta em reunião com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), interinamente na presidência da República.

Outra sessão cancelada por falta de deputados foi a que votaria, no Conselho de Ética, a continuidade ou não dos processos de cassação contra Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e Jean Wyllys (PSOL-RJ).

Resultado: às 16h30 de uma quarta-feira, horário em que a Câmara deveria estar no auge ou iniciando o auge dos seus trabalhos, o clima era de esvaimento e dispersão.

Cunha foi um dos parlamentares mais influentes dos últimos anos e uma possível delação premiada sua é tratada nos bastidores como um dos maiores temores do mundo político em Brasília. Em sua gestão, ele contava com o apoio da grande maioria dos deputados.

Desde que foi cassado com 450 votos de seus 512 colegas, em setembro, ele tem insinuado que contará o que sabe e que implicará integrantes do Congresso e do governo federal.


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