Folha de S. Paulo


Governo tem receio de que delação da Odebrecht atrapalhe votações

O governo Michel Temer tentará acelerar a pauta governista no Congresso Nacional na tentativa de evitar que a delação premiada da empreiteira Odebrecht atrapalhe o ritmo de votações.

Segundo a Folha apurou, a expectativa do Palácio do Planalto é que o acordo da Operação Lava Jato com a construtora possa ser homologado entre dezembro e janeiro do ano que vem.

O receio é que o conteúdo da delação premiada venha a atingir o núcleo duro do Palácio do Planalto e até aliados de peso no Poder Legislativo, o que geraria turbulências nesta reta final de ano e prejudicaria votações de interesse do presidente.

Para evitar uma contaminação do clima hoje favorável no Congresso, a ordem da equipe presidencial é tentar acelerar a tramitação da principal medida governista, o teto dos gastos públicos, e apresentar a reforma previdenciária em seguida.

A meta é garantir a votação do teto em segundo turno na Câmara dos Deputados na próxima semana e tentar concluir o processo no Senado Federal ainda em novembro, onde a proposta de emenda constitucional que cria o teto dos gastos públicos tem de passar por duas votações.

Na sequência, a ideia é apresentar ao Legislativo a reforma previdenciária. Na semana que vem, o presidente deve se reunir com centrais sindicais e entidades patronais para tratar do tema.

O ideal, segundo um auxiliar de Temer, é que tudo esteja concluído antes da homologação da delação da Odebrecht. A avaliação é que ela irá criar turbulências e já gera certa apreensão, porque ninguém sabe ao certo o estrago que será causado no mundo da política.

O Palácio do Planalto não acredita que o conteúdo possa atingir diretamente o presidente Michel Temer, com a hipótese apenas de citações laterais, mas há o receio de que envolva diretamente pelo menos três ministros e aliados importantes do governo no PSDB, PMDB e DEM.

Nas palavras de um auxiliar de Temer, as investigações contra as gestões Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva "deram o que tinham de dar" e, a partir de agora, "os canhões devem ser virados para o atual governo".

AEROPORTO

Em relação às informações publicadas pela revista "Veja", de que um ex-executivo da Odebrecht citou, na negociação de sua delação, três nomes próximos a Temer que teriam recebido benefícios irregulares da construtora, o Planalto avalia que não foi apresentada nenhuma prova para comprometê-los.

Ex-vice-presidente de Relações Institucionais da empresa, Claudio Melo teria dito que Moreira Franco (Programa de Parcerias do Investimento), Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) e o senador Romero Jucá (PMDB-RR) negociaram recebimento de recursos. Os três negam qualquer irregularidade.

O caso mais detalhado é o que envolve Moreira Franco, que teria recebido dinheiro em troca de vetar a proposta, a pedido da Odebrecht, de construção do terceiro aeroporto privado em São Paulo.

Moreira refuta a acusação, diz que nunca tratou de dinheiro com Melo e afirma que o aeroporto foi vetado por questões técnicas.

SINAL VERDE

A construção do terceiro aeroporto privado de São Paulo, em Caieiras, chegou a ganhar sinal verde da ex-presidente Dilma Rousseff, atendendo a um pedido da CCR, empresa de concessões que tem como sócias a Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa. A liberação dependia de um decreto presidencial.

Em 18 de dezembro de 2013, durante café da manhã com jornalistas no Planalto, Dilma afirmou, ao ser questionada sobre o assunto: "Vamos liberar a questão de ter três aeroportos [privados] em São Paulo", acrescentando que o processo seria rápido.

No ano seguinte, em julho, durante encontro com empresários, Moreira Franco, então ministro da Secretaria de Aviação Civil, afirmou: "Já até avançamos. O aeroporto [a ser autorizado em São Paulo] é totalmente privado. O que significa que os critérios adotados já não serão necessariamente os mesmos".

Ao ser questionado sobre a posição da então presidente, ele disse: "Já há vontade expressa pela presidente Dilma de autorizar um aeroporto totalmente privado. Esse problema nem se coloca".

No final de 2014, porém, em reunião no Planalto, a presidente recuou de sua disposição porque a Aeronáutica não aprovava o projeto.

Delação Odebrecht


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