Folha de S. Paulo


Em depoimento à PF, Palocci nega envolvimento com esquema

Rodolfo Buhrer/Reuters
Antonio Palocci (front), former finance minister and presidential chief of staff in recent Workers Party (PT) governments, is escorted by federal police officers as he leaves the Institute of Forensic Science in Curitiba, Brazil, September 26, 2016. REUTERS/Rodolfo Buhrer ORG XMIT: BRA103
O ex-ministro Antonio Palocci, preso nesta segunda-feira (26)

Num depoimento de cerca de quatro horas à Polícia Federal, nesta quinta-feira (29), o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci negou envolvimento com corrupção, disse não ser o "italiano" procurado pelos policiais e rebateu os motivos que o levaram à prisão.

Preso desde a última segunda (26) na Operação Lava Jato, Palocci é investigado sob suspeita de ter solicitado e recebido pagamentos de propina da empreiteira Odebrecht, em troca de atender demandas da empresa no governo federal.

A defesa do ex-ministro nega peremptoriamente, e apresentou dois argumentos centrais à polícia.

Um deles foi negar que Palocci fosse o "Italiano" ou "Itália", apelidos mencionados em e-mails de Marcelo Odebrecht e na planilha que, para a PF, demonstra que Palocci intermediou o pagamento de R$ 128 milhões em propina.

O documento, intitulado "Posição Programa Especial Italiano", lista uma série de pagamentos feitos entre 2008 e 2012, e aponta um saldo de R$ 6 milhões para "Itália" -o que, para a PF, pode indicar valores ilícitos que Palocci teria recebido.

O advogado do ex-ministro, José Roberto Batochio, afirmou que encontrou e-mails de Marcelo em que ele se refere a Itália como uma mulher.

"A mensagem diz: 'Estive com Itália. Ela saiu da reunião e voltou'", disse Batochio. "Ora, Palocci é ele. Não pode ser ela. Ele não é o italiano."

A Folha encontrou um e-mail, nos autos, com a frase "No final da reunião Itália saiu comigo (e voltou depois)". Porém, não há menção a "ela" na sequência.

O uso do pronome feminino é feito antes, em referência a outra pessoa presente na reunião e tratada na mensagem apenas como "ela". A reportagem tentou confirmar com Batochio se era esse e-mail de que a defesa
falava, mas o advogado não deu retorno.

E-mails usados pela PF para justificar a prisão de Palocci também usam o pronome "ele", após a referência ao "italiano", mas o defensor negou que o apelido se refira ao ex-ministro. "Temos um apelido em busca de um personagem", disse.

VOTAÇÃO

O outro argumento foi em relação à conversão em lei da Medida Provisória 460, que concederia créditos tributários a grandes empreiteiras como a Odebrecht. A Polícia Federal, com base em e-mails de Marcelo
Odebrecht, afirma que Palocci atuou a favor da empreiteira e ofereceu "compensações" à empresa, inclusive com contratos na Petrobras, depois de ela ter sido vetada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A defesa do ex-ministro afirma que, na época, ele era deputado federal e votou contra a medida –o que foi confirmado pela Folha em consulta ao site da Câmara.

"Votou contra, portanto, os interesses da Odebrecht. Não tem o menor sentido; é uma acusação que desmoronou."

Sobre a suspeita de que Palocci intercedeu para ampliar empréstimos do BNDES à Odebrecht, também baseada em e-mails dos executivos da empresa, o ex-ministro voltou a negar qualquer atuação.

"Ele era conhecido como um inimigo ferrenho do BNDES; achava absolutamente imprópria essa política do banco de atuar no setor privado", disse o advogado.

RELACIONAMENTO

Em entrevista à imprensa, Batochio não negou que o ex-ministro tivesse um bom relacionamento com Marcelo Odebrecht -mas afirmou que isso fazia parte de seu trabalho na Fazenda.

"[Tinha bom relacionamento] com ele e com a torcida do Corinthians. Ele falava com todo o empresariado", declarou o advogado.

Para o defensor de Palocci, é dever do titular do ministério manter uma boa interlocução com o setor empresarial. "Daqui a pouco, vai ser proibido a um ministro atender pessoas. Precisamos parar com esse clima de caça
às bruxas."

A prisão temporária de Palocci vence nesta sexta (30), assim como de seus dois ex-assessores, Juscelino Dourado e Branislav Kontic, que também negaram irregularidades.

Com base nos depoimentos e nas provas colhidas na investigação, a PF pode pedir a prorrogação das prisões por mais cinco dias, ou sua conversão em prisão preventiva (sem data para terminar), ou ainda a libertação dos investigados.

Quem decide sobre a prisão, após a manifestação do Ministério Público Federal, é o juiz Sergio Moro.


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