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Preparado para prisão havia quatro dias, Palocci negará ser o 'italiano'

Danilo Verpa/Folhapress
O ex-ministro Antonio Palocci (PT) foi preso temporariamente na manhã desta segunda-feira (26)
O ex-ministro Antonio Palocci (PT) foi preso temporariamente na manhã desta segunda-feira (26)

O ex-ministro Antonio Palocci Filho se preparava para ser preso havia quatro dias. Desde que viu seu sucessor no Ministério da Fazenda, Guido Mantega, ter a prisão temporária decretada, na manhã de quinta-feira (22), admitiu entre amigos que deveria ser ele o próximo alvo da Lava Jato.

A tese inicial de Palocci, porém, não era a de prisão. Acreditava que, depois que Odebrecht começou as tratativas para fechar acordo de delação premiada, em maio, a Polícia Federal o levaria para depor coercitivamente. A partir de então, reduziu seus trabalhos na consultoria e correu para traçar sua defesa.

Passou a se reunir semanalmente com seu advogado, o criminalista José Roberto Batochio, e negava as acusações. Mesmo aos mais próximos, Palocci dizia com veemência que não era ele o "italiano", apelido que figura em planilhas de pagamentos de propina apreendidos com executivos da Odebrecht. Apesar disso, reconhecia que tinha bom relacionamento com a família dona da empreiteira.

Aos investigadores, seguirá essa linha e usará, segundo a Folha apurou, e-mail escrito em 2010 pelo ex-presidente da construtora Marcelo Odebrecht dizendo que o "Italiano não estava na diplomação", referência à cerimônia em que Dilma Rousseff foi reconhecida como presidente eleita, em 17 de dezembro de 2010. Palocci vai dizer que estava no evento e que isso pode ser comprovado com fotos da época.

Com 55 anos, Palocci foi o grande articulador entre os empresários e o PT durante os governo de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff e era considerado homem de confiança de Lula. Era quem fazia a ponte do empresariado com os hoje ex-presidentes e foi um dos principais formuladores da política econômica da era petista.

Ex-colegas de Esplanada dizem que Palocci foi o último contraponto de Dilma. Como seu ministro da Casa Civil, era quem dava opinião sobre diversas áreas do governo e rebatia a então presidente. Depois dele, a petista se cercou apenas de quem concordava ou dizia que concordava com suas ideias e, segundo aliados, a falta de contraditório foi uma das razões que a fez perder a capacidade de governar e, consequentemente, o mandato.

Nunca deixou de aconselhar Lula e até pouco tempo era frequentador do instituto que leva o nome do ex-presidente para reuniões sobre a conjuntura econômica, principalmente durante a crise que acometeu o governo Dilma.

FIADOR

Palocci era formado em medicina, foi vereador, deputado estadual, deputado federal e prefeito de Ribeirão Preto. Aprendeu a circular entre os empresários e, como primeiro ministro da Fazenda de Lula, em 2002, idealizou a Carta ao Povo Brasileiro, que deu segurança para os pesos-pesados do PIB (Produto Interno Bruto) apoiarem o petista logo na largada.

Sua primeira queda foi em março de 2006, quando deixou o Ministério da Fazenda de Lula após ser acusado pelo caseiro Francenildo Costa de frequentar uma casa mantida por lobistas e conhecida em Brasília como "República de Ribeirão Preto". O caseiro teve seu sigilo bancário quebrado e os dados divulgados na tentativa de desqualificar seu depoimento. Palocci dizia que Francenildo havia sido subornado por opositores ao PT.

O ex-ministro foi reabilitado politicamente —e publicamente— pelo PT na campanha que elegeu Dilma pela primeira vez ao Planalto. Em 2010, era um dos "três porquinhos", apelido dado a ele, José Eduardo Dutra, então presidente do partido, e José Eduardo Cardozo, que compunham a linha de frente da petista.

Palocci coordenava a campanha e fazia o primeiro contato com empresários para as doações eleitorais, mesma atuação que teve nas duas campanhas presidenciais de Lula. Depois das reuniões com Palocci, os doadores procuravam o tesoureiro da campanha e acertavam os repasses.

A pedido de Lula, Dilma nomeou Palocci seu ministro da Casa Civil em 2011, mas ele perdeu o cargo cinco meses depois, em razão de consultorias prestadas a empresas, inclusive durante a campanha de 2010.

Não divulgou seus clientes e o aumento de 20 vezes de seu patrimônio tornou-se, segundo petistas, "injustificável". "O erro de Palocci foi tentar voltar para a vida pública depois de atuar no setor privado, como consultor. Isso nunca dá certo", diz um de seus correligionários.

Nesta segunda-feira (26), Palocci foi preso na 35ª fase da Lava Jato, em São Paulo, e levado a Curitiba. Intitulada Omertà, a operação investiga indícios de uma relação criminosa entre o ex-ministro e Odebretch.

Segundo o juiz federal Sergio Moro, há provas de que Palocci coordenou o repasse de propinas da empreiteira para o PT.


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