Folha de S. Paulo


Na CPI da Merenda, Capez alfineta governo de SP e Ministério Público

Danilo Verpa/Folhapress
O presidente da Assembleia Legislativa de SP, Fernando Capez, presta depoimento na CPI da Merenda, que investiga fraudes em contratos
O presidente da Assembleia Legislativa de SP, Fernando Capez, presta depoimento na CPI da Merenda

Em uma sessão tumultuada da CPI da Merenda na Assembleia Legislativa de São Paulo, o presidente da Casa, Fernando Capez (PSDB), disse aos deputados para investigarem toda a merenda fornecida pelo governo de Geraldo Alckmin, seu colega de partido, e não apenas o suco de laranja vendido por uma cooperativa suspeita.

"Cadê o superfaturamento que existe dos grandes fornecedores da merenda? A merenda seca? Por que não se apura toda a merenda?", disse Capez em coletiva após a CPI, repetindo o que já havia dito durante a sessão.

A merenda seca fornecida pelo governo foi o que motivou a abertura de uma apuração do Tribunal de Contas do Estado que apontou uma série de problemas nas refeições das escolas estaduais.

A fala do tucano sinalizou uma tentativa de sair do foco da apuração e passá-lo para o Executivo. Na sessão, a declaração foi dada após um questionamento do deputado Teonilio Barba (PT), que disse a Capez que "tem mão do Palácio dos Bandeirantes no escândalo da merenda".

"Eu não acredito em fogo amigo, porque amigo não faz fogo", respondeu ao petista.

O presidente da Assembleia foi ouvido na CPI, nesta quarta-feira (14), porque seu nome foi citado na Operação Alba Branca, deflagrada em janeiro para apurar um suposto esquema de fraudes e pagamentos de propina na compra de suco de laranja da Coaf (Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar).

Capez negou participação no esquema. "Não recebi um centavo dessa cooperativa nem de nenhuma cooperativa, nem diretamente nem por interpostas pessoas. Minha campanha não recebeu um centavo", afirmou.

"Se eu tivesse feito uma coisa como essa, eu teria vergonha de vir aqui."

Em outro momento, questionado sobre uma suposta morosidade na investigação do escândalo pelo Ministério Público paulista, Capez alfinetou setores da instituição da qual é membro –o deputado é promotor licenciado.

"O fato de não estar apurando não quer dizer amizade. Pode ser exatamente o contrário", disse, em resposta a uma pergunta sobre se já havia prestado depoimento à Procuradoria-Geral de Justiça, que investiga o caso. Para Capez, a demora na investigação, que vai inocentá-lo, desgasta sua imagem.

Ao final, questionado sobre essa crítica na coletiva, o deputado amenizou-a. "Tudo o que eu sou eu devo ao Ministério Público. Eu virei professor, eu sou autor de livros, eu me tornei um profissional reconhecido por causa do Ministério Público. Então, por maior que seja a minha mágoa, eu não vou fazer carga contra a minha instituição", disse.

A maior parte do tempo dedicado ao depoimento foi tomada por falas dos próprios membros da CPI. As perguntas foram longas e, por vezes, elogiosas. As respostas de Capez foram curtas e objetivas.

PUNIÇÃO A SERVIDORES

Deputados da oposição evitaram entrar no mérito das suspeitas, alegando que não tiveram acesso a toda a investigação que tramita no Tribunal de Justiça, o que impedia que as perguntas avançassem.

Alencar Santana Braga (PT) dedicou-se a perguntar quais providências o presidente da Assembleia irá tomar sobre dois ex-assessores de seu gabinete: Jéter Rodrigues Pereira e José Merivaldo dos Santos.

O primeiro prestou depoimento à CPI na terça (13) e admitiu ter assinado um contrato de R$ 200 mil com a Coaf em 2014, quando atuava no gabinete do tucano. Para investigadores, o documento servia para justificar a saída de propina da cooperativa.

Já Merivaldo era esperado para depor nesta quarta, mas faltou à CPI alegando problemas de saúde. Funcionário de carreira da Assembleia, ele está de licença médica para tratar um câncer. A bancada do PT, porém, exibiu uma foto dele na mesa de uma tabacaria –tirada, segundo os petistas, na última quinta (8).

Merivaldo foi destinatário de um cheque da Coaf de R$ 50 mil, que chegou a ser depositado em sua conta mas voltou por falta de fundos.

Embora diga que seu nome foi indevidamente usado por ex-assessores e por membros da Coaf, Capez evitou defender uma punição dura aos dois. Disse que a Assembleia instaurou uma sindicância interna para apurar os fatos.

O PT criticou o fato de a sindicância já durar cerca de seis meses sem apresentar resultados. Em maio, no meio das investigações, Jéter Pereira aposentou-se da Assembleia.


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